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Angola - o futuro na diversificação

Angola: Visão Global

Angola - o futuro na diversificação
Angola é um país de quase 21 milhões de habitantes, 55% dos quais concentrados nos centros urbanos, e que procura recuperar das sequelas sociais e económicas da turbulência pós-independência. Os últimos 10 anos foram de crescimento vertiginoso, com subida média do PIB acima dos 13%/ano.

A crise financeira pós-Lehman Brothers criou dificuldades e fez cair o rendimento disponível, mas o país voltou ao que era: uma das potências sub-regionais em maior expansão e um sério candidato à liderança económica da África Austral. Liderado por quadros que foram formados na Europa, EUA e Rússia nos últimos anos, o país criou empresas à escala mundial, caso da Sonangol (petróleos) ou da Unitel (telecomunicações).

Mas o país – que ainda deve metade do seu crescimento ao petróleo – não é apenas "ouro negro”. É uma potência a nível de outras energias, a nível de produtos minerais e ainda a nível agrícola e turismo.

E é nesta diversificação que o Governo angolano está a avançar com uma sociedade inclusiva, privilegiando o lançamento de novas indústrias de transformação, tendo aberto linhas de crédito específicas, caso do programa Angola Investe, ou incentivando ao desenvolvimento agrícola e pecuário.

O executivo acredita que é nestas indústrias do setor primário que está o potencial para inverter a dependência de Angola de produtos de consumo de base. Já em 2013 foi criada uma comissão coordenada pelo titular da Economia para acelerar a implementação de polos de desenvolvimento industrial. Terá por objetivo imprimir uma nova dinâmica, evitando a sobreposição de programas urbanísticos e de implantação de fábricas.

A política do executivo angolano está a privilegiar novas iniciativas locais capazes de criar emprego e inverter a tradicional situação de forte componente informal no mercado nacional. O setor turístico está a crescer rapidamente, com o lançamento de unidades hoteleiras em várias zonas do país, aproveitando o potencial natural a nível de fauna e flora.

Os grandes eventos, como foi o campeonato de futebol do continente africano (CAN), ou a visita do Papa Bento XVI em 2009, fizeram sobressair um país em franco progresso mas onde faltavam infraestruturas básicas nas áreas da hotelaria e vias de transporte. No entanto, o governo tem centrado a sua ação na reconstrução da rede viária nas cidades principais e secundárias, a par das ligações dos eixos centrais do norte ao sul do país.

Desde então, tem assistido à construção de dezenas de unidades hoteleiras e lançado projetos a nível turístico, caso do futuro porto de cruzeiros em Luanda. Angola mantém, aliás, o objetivo de 4,6 milhões de visitas turísticas em 2020. Entre os pontos turísticos de referência está o Cabo Ledo, em Luanda, e ainda as quedas de Kalandula e o rio Okavango.

A questão da inclusão das mulheres, é outro ponto de honra do governo angolano. O papel crucial na guerra da libertação nunca foi esquecido e organizações como a OMA, Organização da Mulher Angolana, participam ativamente na vida social e económica do país.

É ainda de realçar o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação que visa melhorar as condições de habitabilidade da população carenciada. O censo à população previsto para este ano dará uma fotografia bem mais aproximada das necessidades gerais.


O motor económico
As projeções de crescimento da economia angolana indicam valores superiores a 7% para 2013, com algumas agências internacionais a anteciparem performances superiores às do Governo. A inflação deverá ficar abaixo dos 10%, de forma sustentada e permanente, sendo que o Banco central angolano (Banco Nacional de Angola) estima um valor em torno dos 9%.

A diversificação da atividade económica em Angola é a palavra de ordem da presidência e do executivo. O peso do setor petrolífero representava 56,1% do crescimento da economia há 10 anos e em 2012, já só significou 38,8%. O objetivo é sustentar o crescimento em atividades industriais, agrícolas e transformadoras com valor acrescentado, dentro de uma ótica de forte preocupação social.

O programa Angola Investe está a criar oportunidades para micro, pequenas e médias empresas que se queiram lançar no setor primário, caso da agricultura, pecuária e pesca e algumas no setor secundário, caso da pequena indústria transformadora. O ano 2013 vai significar um esforço das linhas de crédito bonificadas, fundos de garantia pública e capital de risco.

Os setores da saúde e da habitação social estão a receber grandes investimentos, a par de novas políticas de inclusão social e de género (a proteção à mulher faz parte dessas políticas), enquanto está a ser dinamizado o setor do turismo pela sua capacidade de gerar empregos de longo prazo. O Governo aprovou a criação do Polo de Desenvolvimento Turístico do Futungo de Belas e, mais recentemente, do Polo de Desenvolvimento Turístico de Kalandula; ainda do Polo de Cabo Ledo; e do Polo de Desenvolvimento Turístico da Bacia do Okavango. É de frisar que neste último projeto, Angola é parte de algo mais ambicioso e que passa pela criação de uma reserva transfronteiriça de conservação ambiental e de turismo ecológico, que envolve a Zâmbia, o Zimbabwe e a Namíbia, o chamado projeto Okavango-Zambeze.

O PIP, ou Programa de Investimento Público, vai suportar o crescimento das infraestruturas alavancadas por fundos públicos, as quais absorverão 24% do total da receita, enquanto a despesa com o funcionalismo público representará 19,4% da despesa do Estado angolano em 2013. Aliás, em 2012, o país criou um fundo soberano de cinco mil milhões USD para investir em energia, águas, ferrovias, estradas, portos, aeroportos e comunicações. As âncoras deste programa de infraestruturas assentam na construção de três corredores de ligação entre os portos marítimos de Luanda, Lobito e Namibe, com os caminhos -de-ferro em Malange, Benguela e Namibe, a par da modernização dos portos.


O "milagre” angolano
Angola cresceu, em termos médios, mais do que qualquer país da África subsariana nos últimos seis anos, embora evoluindo em "picos” e ao sabor do preço do crude no mercado internacional, devido à grande exposição do país em termos de crescimento económico a esta "commodity”.
Esta correlação entre evolução do PIB e preço do crude está bem espelhada na performance do país nos últimos quatro anos, pós-crise Lehman Brothers, algo menos nítido em países concorrentes na sub-região, como seja o caso da Nigéria.

A estabilidade económico-financeira do país permitiu criar condições para tornar o kwanza (AOA) uma moeda forte e a cotar dentro de um intervalo curto em face do dólar (80 a 90 AOA por dólar). O executivo, em sintonia com o banco central, tem dado orientações precisas a nível de política monetária às grandes petrolíferas, obrigando a que as transações dominantes em dólares passem a fazer-se na divisa angolana.

Na Balança de Transações regista-se que 42% das importações têm origem na União Europeia, enquanto nas exportações a China assume papel dominante, pois absorve 49% das vendas de Angola ao exterior, destacando-se o petróleo.

Um dado interessante realçado pela agência de notação Moody’s é o facto de Angola ser o único país com rating especulativo e ao qual é atribuído às contas públicas elevada robustez financeira, devido à dinâmica da dívida. O rácio da dívida pública angolana no PIB no total das receitas do Estado é o mais baixo do conjunto de países com a mesma classificação em termos de rating.


A potência regional
Angola compete com a Nigéria pelo primeiro lugar na produção petrolífera. O país tem uma produção diária estimada superior a dois milhões de barris, embora o Orçamento Geral do Estado de 2013 apresente um objetivo de produção petrolífera de cerca de 974 milhões de barris, tendo o Orçamento estimado um valor médio de transação de 96 USD/barril.

A nível da mineração estão no país as petrolíferas de referência e a descoberta do pré-sal, em 2011, trouxe a oportunidade a novas parcerias, com a atribuição de novos blocos e onde a estatal Sonangol tem participações entre os 30% e os 50%. De acordo com a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), as reservas provadas de petróleo de Angola situam-se nos 9,5 mil milhões de barris, e segundo a EIA (Environmental Investigation Agency), as reservas comprovadas de gás natural são de 9,6 TCF (trillion cubic feet), a segunda maior reserva de gás natural da África subsariana. O país tem vindo a trabalhar no projeto de converter gás natural em GPL. Angola é, desde há alguns anos, uma potência energética mundial.

Mas o país não é apenas petróleo, pois a nível de mineralogia o território tem riquezas imensas em diamantes, minério de ferro, cobre, manganês, fosfatos, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata, platina e urânio.

Na indústria transformadora destacam-se as oleaginosas, cereais, carnes, algodão, açúcar, cimento e madeira. Na agricultura, a revitalização está a fazer-se no algodão, cana do açúcar e borracha.

Ao nível dos serviços destaca-se a reduzida "bancarização” da população, o que é uma oportunidade para as instituições financeiras. O lançamento de novos serviços a nível de seguros, corretagem, fundos de investimento e produtos financeiros constituem uma oportunidade ímpar.



A década de Angola: uma viagem em ritmo acelerado

A perspetiva fascinante do embaixador angolano na ONU, Ismael Gaspar Martins, sobre o futuro do seu país. Entrevista por José Manuel Fonseca.


Enquanto ex-ministro das Finanças e governador do Banco Central de Angola, como vê o percurso de Angola na última década?
A última década pode ser justamente caracterizada como a "Década de Angola.” O País continua a ter um percurso notável no domínio do crescimento económico, reconhecido por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). O fi m da guerra, em 2002, impulsionou o país para um forte crescimento económico e social, com o aumento das receitas do petróleo, e um importante investimento público na reconstrução e construção de infra-estruturas sociais e produtivas assim como o realojamento de cerca de 4 milhões de deslocados internos e de centenas de milhares de refugiados. Nos últimos anos, a economia angolana situou-se entre as que mais cresceram a nível mundial, crescendo na ordem dos 11,1% em 2010. A taxa de inflação foi reduzida apenas um dígito e obtido um equilíbrio macro-económico notável.


Que balanço faz da presença de Angola na ONU?
Consideramos positiva a presença de Angola na ONU. Passado o período da guerra no país, durante o qual a nossa acção político-diplomática incidia na formulação de estratégias que proporcionassem o alcance da paz, reconciliação e da reconstrução nacional, o país tem vindo a adotar uma postura mais ativa e participativa a nível dos vários órgãos do sistema das Nações Unidas, na abordagem de questões fulcrais de interesse internacional, como a paz e segurança mundial, o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar, a saúde do género.
Desde 2002, Angola assumiu sucessivamente a vice-presidência da Assembleia Geral, membro não permanente do Conselho de Segurança, membro do Conselho Económico e Social, do Conselho dos Direitos Humanos, da Comissão para o Desenvolvimento da População, membro do bureau executivo da ONU – Mulheres e a primeira presidência da Comissão para Consolidação da Paz.


Como vê o interesse de empresas internacionais (nomeadamente as do mundo da lusofonia) em Angola? E, na sua perspetiva, quais os principais fatores de atração que Angola oferece ao investimento estrangeiro?
Sem dúvida alguma, posso afirmar que os factores que contribuem para a atracção do investimento estrangeiro são fundamentalmente a estabilidade política, militar e económica, para além da clara condução da economia que tornaram o país mais dinâmico e seguro. Depois do fi m da guerra, o Governo Angolano tomou importantes decisões no sentido da reorganização do país, contribuindo para a melhoria do ambiente macro-económico, uma política de maior incentivo e protecção do investimento estrangeiro. A participação de investidores do mundo da lusofonia tem sido e continuará a ser bem acolhido em Angola. O estabelecimento de parceria com vantagens mútuas é um fator decisivo. Falar a mesma língua é útil porém não o decisivo.


Na sua opinião, qual o caminho económico e social que Angola deve seguir e quais as áreas que deverão merecer maior atenção?
Na minha ótica, Angola precisa de aumentar o ritmo da sua industrialização e maior diversificação da economia, com prioridade aos sectores agro-pecuário e das minas.


Que grandes desafios antevê para Angola no futuro?
Um dos grandes desafios de Angola no futuro será o aumento e melhoria qualitativa da educação dos jovens bem como na oferta de emprego, e a melhoria dos serviços da saúde da população. A contínua proteção do ambiente será importante para garantir um crescimento económico sustentável e o bem-estar das pessoas.
Em suma, manter o crescimento económico e uma política de maior equidade na distribuição do rendimento ajudará a fazer de Angola uma economia forte e dos angolanos um povo com confiança ao futuro.


Em relação ao Continente Africano: que papel poderá vir a desempenhar na economia mundial do futuro?
Angola como o País com maior crescimento económico no continente, pode vir a afirmar-se como uma das "locomotivas” sobretudo com o investimento nas infraestrutura que "desencravam” importantes recursos nos países da sub-região austral, nomeadamente os caminhos de ferro e o Porto do Lobito e do Namibe e mais recentemente a participação no desenvolvimento da Barragem do Inga, um factor que poderá alterar no futuro o equilíbrio energético na região Austral e Central.
Angola poderá continuar a desempenhar o aumento da produção petrolífera, LNG e de refinados, um papel positivo na manutenção da Paz e segurança na região do Golfe da Guiné e no Atlântico Sul, assegurando uma rota fiável para os recursos que no rico subsolo e também nos fundos marítimos dos países abundam desta importante região do continente.
África, Continente berço da humanidade, hoje em franco crescimento, irá seguramente desempenhar um papel mais importante na economia mundial e Angola será um ator preponderante neste processo que já se iniciou.



Os desafios para a Energia e Águas

João Baptista Borges, ministro da Energia e Águas, testemunha à FullCover o seu otimismo no desenvolvimento sustentável do país e partilha os grandes projetos já em curso.

Quais os maiores desafios e projetos em curso no setor?
O desenvolvimento de Angola está interligado com a capacidade de entregarmos energia e água em quantidade e com qualidade. Os desafios do setor são enormes, uma vez que estamos a recuperar as infraestruturas num momento em que a procura está a aumentar substancialmente em todas as províncias. O investimento nos dois subsetores (água e energia elétrica) é substancial e está estimado em 25 mil milhões de dólares. O maior desafio consiste em garantir a energia e água em simultâneo nas cidades e nas zonas rurais de forma justa e sustentável. Estão em curso diversos projetos que
mudarão determinantemente a matriz energética do país e a sua capacidade de captação de água, dos quais destacaria pela dimensão: a construção da 2.ª central de Cambambe, com uma capacidade total de 960 MW; a construção da central de ciclo combinado do Soyo, com 750 MW de capacidade; a construção do Aproveitamento hidroelétrico de Laúca, com 2067 MW de capacidade; a construção, em Luanda, das estações de captação e tratamento de água do Bita e Quilonga Grande, com 500.000.m3/dia, que duplicará a capacidade de abastecimento atual, bem como a reabilitação dos sistemas de abastecimento de água em 130 municipalidades.


Que oportunidades para investidores?
Angola desenvolveu todo o enquadramento jurídico que permite o envolvimento de investidores privados no setor da água e da energia. Neste sentido e tendo em consideração o nível de investimento considerado pelo governo angolano, diria que as oportunidades para o bom investidor são muitas, mas sempre numa perspetiva de médio-longo prazo com vista a colaborar com o desenvolvimento do país.


Como vê Angola daqui a 5 anos?
Terminada uma época em que nos vimos obrigados a importar a esmagadora maioria dos bens que consumíamos, antevejo um país com capacidades agrícolas, industriais. Isto, naturalmente, num ambiente com mais e melhor energia e água disponível.


Que destino(s) e atividades em Angola recomendaria a um turista?
Angola é um país deslumbrante. Fomos abençoados com uma beleza ímpar desde a floresta tropical ao deserto. É extremamente difícil selecionar destinos, pois todas as províncias possuem belezas naturais e culturais ímpares. As praias imaculadas, os rios deslumbrantes, as nossas serras de cortar a respiração. Contudo, e para não deixar de nomear alguns destinos, socorro-me da temática água e energia. Arrisco as Quedas do Kalandula, o deserto do Namibe e um pôr-do-sol na Serra da Leba.




O Setor Segurador e de Fundos de Pensões em Angola

Por Ana Dourado – Partner, Audit, KPMG; Nuno Esteves – Director, Management & Risk Consulting, KPMG

Com o desenvolvimento do primeiro estudo sobre o Setor Segurador e de Fundos de Pensões em Angola, procurámos incluir o nosso ponto de vista quanto à performance deste Setor entre 2008 e 2010, bem como uma breve descrição das tendências e principais desafios que se apresentam às Companhias de Seguros e Entidades Gestoras de Fundos de Pensões nos próximos anos, fruto das trajetórias de evolução e maturidade dos mesmos.
Este estudo sobre o Setor Segurador e de Fundos de Pensões resulta da compilação de informação disponibilizada pelo Instituto de Supervisão de Seguros de Angola (ISS) relativamente às Companhias de Seguros e Sociedades Gestoras de Fundos de Pensões a atuar em Angola, bem como de dados recolhidos junto de outros organismos nacionais e internacionais, nomeadamente do Ministério da Economia de Angola, do Fundo Monetário Internacional, do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), da Swiss Re e da Fenaseg, relativos aos mercados africano, europeu, americano e asiático.


Estrutura do Mercado
O ano de 2010 marcou a retoma do ritmo de crescimento económico em Angola. Fruto deste crescimento e de algumas transformações no plano regulamentar, o Setor Segurador e de Fundos de Pensões têm apresentado um crescimento sólido desde a sua liberalização em 2000, enfrentando importantes desafios, tanto a nível estratégico, como operacional.


Prémios
O forte desenvolvimento económico dos últimos anos, aliado ao aumento do ambiente regulamentar, muito têm contribuído para o desenvolvimento e atratividade deste Setor. Em apenas dois anos, mais do que duplicaram os Prémios de Seguro Direto, com destaque para Não Vida, nomeadamente os Ramos Acidentes, Doença e Viagens e o Automóvel, este último por via da introdução da obrigatoriedade do Seguro de Responsabilidade Civil. Em termos relativos, o Ramo Não Vida tem aumentado o seu peso relativo, representando mais de 90% da produção.

No Ramo Não Vida, a entrada em vigor do Decreto Lei nº 35/09 relativo ao Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel veio potenciar o crescimento deste produto, que se assumiu como o mais relevante no mercado, com uma quota de mercado de 27,9%, sendo seguido de perto pelo Ramo de Acidentes, Doença e Viagens com 26,4%. O Ramo Vida, apesar do importante crescimento registado nestes últimos dois anos (+27,8%), tem vindo a perder uma importância relativa, representando menos de 5% do total. Com o crescimento da economia angolana, a revisão do sistema tributário e fiscal e o desenvolvimento do mercado de capitais (bolsa de valores), é expectável uma inversão desta tendência, principalmente por via do aumento da capacidade da população do consumo de produtos de natureza financeira, em linha com os principais mercados internacionais.

Na análise da evolução do Setor é igualmente visível a diminuição do peso do Ramo Petroquímica, dada a correlação direta entre este ramo e o setor de maior peso na economia angolana. Este factor revela não só a maior maturidade do Setor, como a capacidade do mesmo de oferecer produtos capazes de servir e segurar os diversos Setores e atividades da economia angolana.


Sinistralidade
Relativamente à Sinistralidade, apesar do aumento de 17,1% das indemnizações pagas, o forte crescimento dos Prémios contribuiu para a redução da Taxa de Sinistralidade, que, em 2010 foi cerca de 20%.

Este valor está bastante abaixo de outros mercados e deverá aumentar à medida que existir um melhor conhecimento por parte dos tomadores de seguros dos seus direitos e aumentar a cultura de seguros em Angola. Esta subida, associada ao valor de outras despesas que representam cerca de 16% dos prémios, deverá implicar uma pressão crescente sobre os resultados técnicos do Setor, que até à data têm crescido.


Resseguro
Relativamente ao volume de Prémios em Resseguro, é possível observar que, embora continuem a crescer, os mesmos não acompanharam o volume de crescimento dos Prémios Emitidos. Neste sentido, a taxa de cedência média é de 50,3% do total de Prémios Emitidos. É expectável uma continuação da redução da taxa de cedência, alinhando com os valores registados em mercados mais maduros.

A taxa de penetração dos Seguros no Setor angolano tem vindo a aumentar, apresentando porém valores reduzidos e na ordem de 1%. Este valor evidencia bem o elevado potencial que o mercado apresenta, ainda por mais quando estamos perante uma economia com elevado potencial de crescimento. Note-se que os seguros têm crescido normalmente, mas o rácio prémios/PIB tem oscilado, devido ao crescimento exponencial do PIB. Ao nível da taxa de densidade do seguro, observamos o aumento dos Prémios totais por habitante, que ascenderam em 2010 a um total de 49,6 USD por pessoa. Este indicador vem reforçar o potencial de crescimento e desenvolvimento do mercado.

Em termos geográficos observa-se que as empresas seguradoras se encontram agora num processo de expansão, saindo de Luanda e começando a posicionar-se nas principais cidades do país, em particular nas diversas capitais de província. Destas, destaca-se a presença em Benguela (a segunda cidade do país) e no Huíla, onde a generalidade dos operadores já marca presença.

Nesta fase de grande crescimento do Setor segurador, existem ainda bastantes províncias em que o número de agências é bastante reduzido, sendo interessante acompanhar os modelos de expansão a adoptar. Destacam-se as províncias de Kwanza Norte, Malanje e Moxico com cerca de meio milhão de habitantes servidos por agência, o que realça o enorme espaço existente para a implementação de novos canais.

A necessidade de rapidamente chegar a um maior número de cidadãos, a custos controlados, deverá potenciar o reforço do desenvolvimento de novos canais, como é o caso do desenvolvimento da oferta de seguros através dos canais bancários (bancassurance). A perspectiva é que nos próximos anos se continue a assistir a uma crescente diversificação dos canais de distribuição e desenvolvimento de produtos para dar resposta às necessidades destas populações que têm de uma forma geral, níveis de rendimentos mais baixos e perfis de consumo diferenciados.


Fundos de Pensões
O ano de 2010 representou mais um ano de crescimento para o mercado dos Fundos de Pensões, com mais fundos, participantes, pensionistas e activos sob gestão.

Em 2010 existiam cinco entidades a gerir Fundos de Pensões, sendo uma delas uma empresa de Seguros. Estas sociedades gerem Fundos Abertos e Fechados, que ascendiam a 37.753 Milhões AOA. Relativamente às contribuições para os Fundos de Pensões, observamos que a evolução destas apresenta um comportamento mais modesto, com crescimentos de 4% em 2009 e 5,9% em 2010.

A rendibilidade dos ativos investidos registou um comportamento heterogéneo, com os Fundos Abertos a registar um incremento e os Fundos Fechados uma diminuição. Como seria de esperar a comparação dos rendimentos por fundo registou igual comportamento.

O aumento dos níveis de concorrência e o desenvolvimento do mercado de capitais serão factores importantes para o aumento dos níveis de rentabilidade real (ajustada pela taxa de inflação) e para um consequente aumento ainda mais significativo deste Setor, principalmente da componente de Fundos Abertos.

No que diz respeito à taxa de penetração (1) no mercado (valor dos fundos/PIB), em 2010, esta manteve--se relativamente baixa e a um nível idêntico ao observado em 2009, não tendo ultrapassado os 0,5% do PIB.

Estes valores são um reflexo da reduzida dimensão que este Setor ainda têm na economia em Angola, o que é explicado quer pelo facto de não ser uma prioridade para a maioria da população, quer porque o seu poder económico ainda não lhe permite aceder aos mesmos. Uma vez mais, é expectável que o ciclo de progresso económico que o país atualmente vive, possa levar a que no futuro uma maior franja da população possa aceder a estes produtos aumentando assim o peso dos mesmos na economia.

Por fi m, e relativamente aos ativos sobre gestão, estes voltaram a crescer em 2010, ascendendo a 41.626 Milhões AOA, o que se traduz num crescimento de 28,7% face a 2009.


Tendências no Setor Segurador e de Fundos de Pensões
O Setor Segurador e de Fundos de Pensões tem registado uma forte evolução ao longo dos últimos anos. De modo a compreender o contexto e desafios que se apresentam ao Setor Segurador e de Fundos de Pensões em Angola, é necessário analisar os diferentes intervenientes que nele atuam.


Pessoas e Cultura
Nos últimos anos tem-se assistido a um reforço progressivo das competências dos recursos humanos nas Companhias de Seguros e Sociedades Gestoras de Fundos de Pensões a actuar em Angola. Não obstante, o nível médio de conhecimento, sobretudo em áreas técnicas, como as vertentes Actuariais, Gestão de Risco, Marketing Estratégico e Operacional, entre outras, carece de ser reforçado, apesar da evolução positiva que se tem verificado recentemente.


Crescimento e Concorrência
O mercado angolano tem vivido uma fase de crescimento significativo. Também o Setor Segurador e de Fundos de Pensões tem acompanhado esta tendência nos últimos anos, registando um crescimento médio superior a 10%, no caso do Setor Segurador, e superior a 20%, no caso dos Fundos de Pensões. Neste contexto de liberalização do mercado e crescimento, nos últimos anos foram vários os players que entraram no mercado, e vários pedidos de licenciamento encontram-se em preparação.

Apesar desta evolução positiva, tanto a nível do crescimento como do nível de concorrência, a penetração continua a ser reduzida quando comparada com outras economias onde este Setor apresenta um nível de maturidade superior.


Clientes e Canais de Vendas
Apesar do nível elevado de crescimento registado nos últimos anos, o nível de penetração de seguros em comparação com o PIB ainda é reduzido, comparativamente com o registado noutras economias onde este Setor apresenta um maior nível de maturidade.


A nível regulamentar
Do ponto de vista regulamentar tem-se assistido a um reforço progressivo do regime jurídico e do papel da supervisão. Depois de uma primeira fase após a liberalização do mercado em 2001, em que a prioridade foi dada à criação e aprovação do enquadramento legal em vigor, seguiu-se uma segunda fase de evolução, com o surgimento após 2005 de novos operadores no mercado.

Na terceira fase, atualmente em curso, o principal objetivo será de reforçar a presença no mercado com o início das primeiras inspeções e com o reforço do seu papel na expansão da cultura de seguros e fundos de pensões junto do público, tornando-se numa organização, profissional, atuante e eficiente. O crescimento do Setor deverá implicar uma maior regulamentação e um reforço das práticas de supervisão, promovendo a utilização de práticas e instrumentos destinados a garantir a solidez financeira dos operadores e reforçando as estruturas e mecanismos de governação, com especial incidência no cumprimento de princípios de conduta de mercado e prestação de informação que lhe está associada.


Desafios para o Setor Segurador
A constante evolução deste Setor, apresenta, sem dúvida, inúmeras oportunidades de crescimento mas também alguns desafios. Neste primeiro estudo, procurámos partilhar o nosso entendimento sobre alguns dos principais desafios que o Setor Segurador em Angola está a enfrentar, ou irá enfrentar nos próximos anos, e sobre os quais entendemos que as Instituições devem fazer alguma reflexão, endereçando os mesmos de forma assertiva, nomeadamente:

1. Reforçar o grau de conhecimento dos clientes e desenvolver novos produtos, canais de distribuição e parcerias;
2. Melhorar a eficiência das suas operações e Cobertura dos Sistemas de Informação;
3. Reforçar a formação e melhorar os mecanismos de retenção de talentos;
4. Adequar o modelo de Governo aos novos desafios de mercado e regulamentares (Auditoria, Risco e Compliance).
No setor de Fundos de Pensões em Angola existe igualmente um importante conjunto de desafios que as instituições deverão endereçar, nomeadamente:
1. Sensibilizar o mercado para uma cultura de poupança e do valor associado à protecção;
2. Diversificar a oferta e melhorar progressivamente os níveis de sofisticação da oferta e de rentabilidade;
3. Reforçar as competências técnicas e aumentar os níveis de eficiência do Setor.

Conclusões
O comportamento do Setor Segurador e de Fundos de Pensões em Angola, apresentou um forte crescimento, acima do crescimento da própria economia. Apesar deste forte crescimento, o nível de penetração na economia é ainda reduzido, quando comparado com outras economias em que este Setor apresenta maior nível de maturidade, apresentando assim inúmeras oportunidades de crescimento e desenvolvimento.
Antevemos que este setor, em Angola, continue a apresentar uma elevada dinâmica, tendo necessariamente que se adaptar aos desafios e às tendências emergentes.


Seguros em Angola ao ritmo da Economia

O setor segurador em Angola está a crescer a um ritmo ligeiramente superior ao da Economia, ou seja, acima de 10% por ano. As perspectivas para o futuro são otimistas. Assim pensam os responsáveis de algumas das principais seguradoras a atuar neste mercado.

De acordo com o recente estudo "O Setor Segurador e de Fundos de Pensões em Angola”, desenvolvido pela consultora KPMG, o mercado de seguros tem registado um crescimento sólido desde a sua liberalização em 2000 e possui, atualmente, um elevado potencial de crescimento e uma grande atratividade.

Entre 2000 e 2010 surgiram 20 novas seguradoras e o crescimento não se fica por aqui: o mercado de mediação e corretagem aumentou, com 21 operadores autorizados e com 11 novas empresas em processo licenciamento.

Os números explicam bem o crescimento. "Entre 2008 e 2010, o mercado cresceu sensivelmente 100%. Estimamos que o mercado de seguros não vida, em 2011, representasse sensivelmente 900 milhões de dólares”. Este crescimento impressionante é, para Jorge Magalhães Correia, Presidente do Conselho de Administração da seguradora angolana Universal, um sinal de que o mercado é jovem, "mas as perspetivas futuras são promissoras. Esperamos a manutenção de elevadas taxas de crescimento”.

Esta crença na retoma económica é, a par "do aumento da população, aumento do poder de compra, a crescente sensibilidade das pessoas e das empresas à necessidade do seguro”, crucial para o futuro próximo do setor em Angola. 

"Assistimos ao aumento do número de seguradoras, do desenvolvimento do mercado de mediação e corretagem, do alargamento do portfólio de produtos das seguradoras, bem como expansão das redes comerciais e novos canais de distribuição”, destaca Rui Costa Campos, CEO da Global Seguros.


O caminho para as linhas pessoais
Os passos no caminho do desenvolvimento dão-se a um ritmo mais acelerado e mais consolidado. Tanto no setor empresarial como no dia-a-dia da população, a consciência para a importância da atividade seguradora começa a alargar-se, enquanto ferramenta crítica de proteção pessoal e patrimonial.
A sensibilidade para o seguro pessoal aumenta e as necessidades de proteção individuais começam a determinar um acréscimo da procura por seguros de saúde e reforma. Ainda dentro das linhas pessoais, e em especial os seguros de vida, Jorge Magalhães Correia acredita no "forte incremento da sua importância”, onde o "incentivo ao crédito habitação será fator decisivo para esse crescimento.

Outro fator crítico é a implementação da obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil automóvel. A propósito deste tema, Michael Lewis, Presidente do Conselho de Administração da GA Angola Seguros, fala numa "mudança significativa” que resulta do desenvolvimento de uma cultura nacional e este respeito.


Os desafios
Contudo, os desafios apontam para que se reforce o grau de conhecimento dos clientes, se melhore a eficiência das operações, se adequem os Sistemas de Informação às realidades locais, se aumente a formação e se cumpram os detalhes regulamentares locais, nomeadamente ao nível da Auditoria, Risco e Compliance.

E é esse um dos grandes desafios para o setor segurador angolano: a "passagem do setor segurador da sua fase de lançamento para uma fase de pré maturidade”, nas palavras do CEO da Global Seguros.

Já o líder da Universal refere como uma das prioridades de curto e médio prazo para a indústria "a distribuição numa lógica de multicanal, apoiada em elevados níveis de relacionamento comercial, de satisfação e de fidelização dos clientes”.

O caminho está a fazer-se e a passo acelerado, mas de acordo com o presidente da GA "a aplicação rigorosa das regras é fundamental” e as seguradoras que se queiram efetivamente tornar competitivas terão que promover a inovação.

"Do lado da Tranquilidade, Corporação Angolana de Seguros, a ambição para o futuro, nas palavras de Artur Duarte, é "conciliar crescimento com a qualidade de serviço ao cliente, fazendo com que a reputação do setor seja o maior contributo para o seu desenvolvimento no longo prazo e no segmento dos particulares”.

Em Angola, o futuro começa todos os dias para o setor segurador.
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