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Mudança de padrões

As alterações no panorama de risco, os riscos emergentes e o futuro das soluções não padronizadas

Mudança de padrões
Prever o futuro é tarefa de um vidente, não de um segurador. No entanto, se os seguradores não estiverem atentos a riscos futuros terão dificuldade em prestar o apoio mais adequado aos seus clientes.

Através de uma análise eficaz do big data e tendo uma visão clara sobre todos os riscos que afetam atualmente os clientes, os seguradores poderão prever de forma mais eficiente os riscos emergentes – embora isto signifique também que terão de pensar de forma criativa.

Oferecer um produto pré‑estabelecido como solução para um problema é a abordagem tradicional dos seguros e da gestão do risco, mas que será insuficiente no futuro. Os seguradores terão de desenvolver soluções novas e personalizadas, de forma a transformar os riscos em oportunidades. Isto significa que terão de fazer face aos problemas que os clientes enfrentam nesta matéria.

As relações deixarão de se basear na compra e venda de produtos, e os seguradores deverão assumir‑se como parceiros estratégicos e criar soluções inovadoras para riscos mais sofisticados. E o que é que tudo isto significa? Comecemos com alguns dos riscos emergentes já identificados e com possíveis soluções não padronizadas.


Inovação digital

Os modelos de negócio tradicionais estão a ser desafiados pela «uberização» da sociedade. A Internet das coisas, ou a conetividade em rede das coisas do quotidiano, está a dar forma a uma nova plataforma económica. Os períodos de incerteza e instabilidade dos últimos anos obrigaram a sociedade a pensar em novas maneiras de fazer negócio e os empreendedores e as start‑ups inovadoras estão a mudar a face destes.

Os avanços tecnológicos permitem que os dados em tempo real sobre padrões comportamentais sejam combinados com aplicações móveis nas quais os preços são estabelecidos de forma dinâmica, obtendo‑se um negócio que compreende verdadeiramente os seus clientes.

Os players tradicionais do setor segurador deixarão o pelotão da frente à medida que novas iniciativas empresariais venham a alterar a cadeia de valor e consigam encontrar formas de entrar no mercado com ofertas mais específicas, definidas e apelativas.

Os seguradores têm de interpretar o impacto que os novos riscos – como, por exemplo, os riscos que impliquem consequências para além dos ativos físicos – terão no cash flow dos clientes. Só depois poderão desenvolver soluções novas para responder a estes novos desafios.


Alterações climáticas

O desenvolvimento de novos padrões climáticos chamou a atenção da comunicação social, aumentando a perceção do fenómeno das alterações climáticas. Os invernos são mais quentes e os verões mais húmidos do que há 20 anos. Quando ocorre um episódio relacionado com o clima, os danos sofridos pelas empresas são muito reais, podendo implicar desde interrupções na cadeia de abastecimento a alterações nos padrões de consumo dos consumidores.

Estudo de caso: Uma fábrica de cerveja britânica com uma cadeia de pubs estava preocupada com o impacto do clima no consumo de cerveja durante o verão. Descobriu‑se que é menos provável que as pessoas bebam cerveja se a temperatura for superior a 28° C, uma vez que procuram bebidas mais hidratantes. Os verões frios também eram um problema, já que as vendas diminuíam quando a temperatura baixava para menos de 16° C e, como consequência, as pessoas conviviam menos. A solução foi criar uma cobertura personalizada – não padronizada – para a queda nas vendas. Esta cobertura era ativada por um limite de temperatura acordado.


Catástrofes naturais

As mudanças complexas nos padrões climáticos tiveram também grande impacto no número de ocorrências de catástrofes naturais, que parece estar a aumentar.

A perda de vidas e os edifícios em ruínas poderão ser, de início, o principal resultado das tempestades tropicais ou dos sismos (que, como é óbvio, não estão relacionados com o clima). No entanto, as consequências são muito mais amplas, e estes fenómenos afetam a produção, as culturas e os produtos dos distribuidores e o interesse do consumidor.

Estudo de caso: Uma loja de luxo em Tóquio viu o cash flow seriamente afetado por catástrofes naturais. A principal preocupação não tinha que ver com ativos físicos, mas com o impacto na predisposição dos clientes. Como é fácil de compreender, havia menos pessoas com vontade de fazer compras depois de um sismo, mesmo que os edifícios apresentassem condições de segurança.

Depois de analisar os problemas em conjunto com o cliente, e de falar com gestores do risco e gestores de marketing sobre os aspetos que afetavam o cash flow, o segurador desenvolveu uma cobertura baseada na perda de receitas que é ativada de acordo com a intensidade de um sismo.


Riscos políticos

Os conflitos e as ações militares que estão a acontecer atualmente em várias partes do mundo, e os riscos inerentes aos mercados emergentes conduziram a vários problemas de considerável dimensão: a ameaça de ataques terroristas, um aumento da migração e a reação negativa à imigração.

Para as empresas, estes problemas têm repercussões como a interrupção de cadeias de abastecimento, a grande rotação de pessoal de várias culturas e os danos na reputação da empresa quando algo corre mal. O impacto das alterações legislativas, criadas para dar resposta a alguns dos riscos políticos, também limita a liberdade das organizações.

Estudo de caso: Um sistema nacional de caminhos‑de‑ferro identificou três riscos não decorrentes de eventos danosos que poderiam ter um impacto significativo nas receitas; i) ação legislativa, o que poderia significar que o governo fecharia o caminho‑de‑ferro se previsse um risco como por exemplo uma ameaça terrorista, capaz de afetar a saúde e a segurança dos utilizadores; ii) o impacto de uma catástrofe natural, como uma inundação, uma avalanche ou um deslizamento de terras; iii) ataques cibernéticos capazes de afetar a proteção e a segurança da rede ferroviária. Desenvolveu‑se uma solução personalizada que oferece uma cobertura para a perda de receitas. Esta cobertura seria ativada por eventos especificados de uma gravidade previamente determinada.

Os seguros já não visam apenas danos materiais. Todo o processo inicia‑se com a compreensão dos problemas mais críticos que o cliente enfrenta.

Os riscos emergentes só serão ameaças para o setor segurador se os seguradores não estiverem à altura do desafio e não aproveitarem a oportunidade para criar soluções inovadoras adaptadas às necessidades dos clientes.

A abordagem dos seguradores tem de incidir mais numa vertente de investigação, que lhes permita descobrir quais os riscos que podem ter impacto na receita dos clientes e como poderão segurá‑los. O objetivo é reduzir a volatilidade do negócio de base.

Se quiserem continuar a ter um papel de relevo, os seguradores têm de estar próximos dos clientes e de trabalhar em conjunto com eles à medida que os modelos de negócios vão mudando. Sobreviverão aqueles que forem capazes de desenvolver soluções criativas para ajudar os clientes a manter os seus negócios. No entanto, o sucesso não se atinge através da simples compreensão das necessidades dos clientes. O passo seguinte é o de disponibilizar soluções.


Por Por Christian Wertli, Head of Innovative Risk Solutions na Swiss Re Corporate Solutions


Para informação mais aprofundada sobre riscos emergentes, consulte o relatório de investigação SONAR da Swiss Re Corporate Solutions.
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