Fullcover

Quadro geopolítico geral

Uma Anáise detalhada dos riscos

Quadro geopolítico geral
A perspetiva para o ano de 2016 é deveras controversa. Há aqueles que tem uma visão quase apocalíptica, prevendo que nos encaminhamos para uma "tempestade perfeita” criada por uma quebra do mercado bolsista, um novo colapso imobiliário e um aumento acentuado das taxas de desemprego. Por outro lado, existe a perspetiva mais otimista daqueles que preveem uma recuperação débil mas constante. 

Os economistas estão a analisar o labirinto de sinais económicos objetivos e a interpreta‑lo de forma subjetiva, o que leva a criação de determinadas expetativas e de motivos de preocupação acrescidos. O que fazer a partir deste ponto? Em quem devemos acreditar e o que devemos esperar?

Apesar das opiniões negativas que nos rodeiam, todos queremos agarrar‑nos a uma réstia de esperança para o nosso futuro, bem como o dos nossos filhos. Assim, quando nos chegam notícias indesejadas, há uma tendência para as bloquearmos e para aplicarmos o princípio segundo o qual "olhos que não veem, coração que não sente” – para alguns – muitas vezes uma tática de sobrevivência. No entanto, compreender o nosso mundo e um pré-requisito básico para construirmos a nossa vida e a nossa felicidade.


A previsão dos peritos

O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento da economia mundial de 3,4% em 2016 e de 3,6% em 2017, uma redução de 0,2% para os dois anos em relação às estimativas anteriores, datadas de outubro. Além disso, sublinha a ideia de que os decisores políticos deverão procurar formas de dinamizar a procura a curto prazo.

O FMI divulgou uma Perspetiva Economica Mundial atualizada, num momento em que os mercados globais foram afetados pelos receios do abrandamento chinês e da quebra nos preços do petróleo, tendo mantido as previsões anteriores de crescimento da China – 6,3% em 2016 e 6,0% em 2017 –, o que significa um abrandamento acentuado em relação a 2015.

A China revelou que o crescimento em 2015 atingiu os 6,9%, num ano em que a segunda maior economia mundial suportou enormes saídas de capitais, uma descida no valor da moeda e uma quebra no mercado bolsista durante o verão.

As ações subiram na Europa e na Ásia e o dólar valorizou‑se depois da divulgação dos dados da China, uma vez que os investidores anteviam que Pequim iria aumentar os esforços para estimular o crescimento.

As incertezas acerca da intervenção de Pequim na política económica dispararam, em 2016, para o topo da lista de riscos dos investidores internacionais depois das quebras no mercado bolsista chinês e no yuan terem agudizado os receios de que a economia se esteja a deteriorar rapidamente.

Uma desaceleração mais pronunciada da procura na China continua a ser um risco para o crescimento mundial e o facto de as importações e exportações chinesas terem ficado aquém das expetativas teve um peso muito forte noutros mercados emergentes e nos mercados exportadores de commodities.

O abrandamento da procura por parte dos consumidores dos Estados Unidos e do Japão, a debilidade dos mercados emergentes devido a receios relativamente à quebra dos preços do petróleo e das commodities e as saídas de capital da China contam‑se entre os principais riscos.

Além disso, o FMI afirma que a perspetiva de uma aceleração da produção nos EUA se desvaneceu, uma vez que a valorização do dólar se faz sentir na indústria e a diminuição do preço do petróleo restringe o investimento em energia. A organização prevê agora que o crescimento económico nos EUA será de 2,6%, quer para 2016 quer para 2017, uma quebra de dois pontos percentuais relativamente à previsão de outubro para os dois anos. 

Na Europa, os preços do petróleo mais baixos irão ajudar o consumo privado, pelo que o FMI acrescentou um ponto percentual à sua previsão de crescimento para a zona do Euro, cifrando‑a em 1,7%, valor que se manterá em 2017.

O Brasil continuará em recessão em 2016, com a produção a contrair 3,5%, uma descida de 2,5 pontos percentuais relativamente à previsão anterior, e não registará nenhum crescimento substancial em 2017, numa altura em que a maior economia da América Latina se debate com a diminuição da procura chinesa.

Bill Conerly, colaborador da revista Forbes, considerou, comentando a previsão do FMI, que os países dependentes das commodities, como a América Latina, a África e algumas regiões da Ásia estão a enfrentar tempos difíceis. O facto de os preços das commodities serem tão baixos representa uma redução na mineração, na produção de petróleo e na agricultura. Conerly acredita que o mundo irá provavelmente crescer um pouco mais lentamente do que a previsão do FMI.

Do ambiente à segurança internacional, passando pela Quarta Revolução Industrial, o Relatório de Riscos Globais do Fórum Economico Mundial 2016 aponta para o aumento dos riscos em 2016. No inquérito anual deste ano, quase 750 especialistas avaliaram 29 riscos globais distintos, no que respeita quer ao seu possível impacto, quer à probabilidade de ocorrências ao longo de um horizonte de dez anos.

O risco com maior potencial de impacto em 2016 é o do fracasso na mitigação das alterações climáticas e na adaptação às mesmas. No estudo considerou‑se que, em 2016, este risco tem maior potencial danoso do que as armas de destruição maciça (2º), as crises de água (3º) a migração involuntária de grande escala (4º) e um grave choque nos preços da energia (5º).

No que se refere à probabilidade, o principal risco em 2016, é, porém, a migração involuntária de grande escala, ao que se seguem os eventos climáticos extremos (2º), o fracasso na atenuação e adaptação a alterações climáticas (3º) conflitos entre estados com consequências regionais (4º) e grandes catástrofes naturais (5º). No topo da escala, os dois riscos mais interligados de 2016 – instabilidade social profunda e desemprego estrutural ou subemprego – representam 5% de todas as interligações.

Nas páginas seguintes os nossos leitores encontrarão fichas de dados com excertos de uma Previsão de Ameaças para 2016 disponibilizada pela Red24, uma empresa de segurança de topo, que aponta os diversos riscos políticos, de segurança e de sequestro por região durante o ano. Esta informação traçará um quadro geral realista e preocupante das ameaças para o ano de 2016.


Crime Marítimo

A ameaça de pirataria e de outras formas de crime marítimo, em especial o roubo no mar, continuará a ser elevada em várias regiões de todo o mundo durante 2016. A pirataria continuará a constituir um risco de segurança específico no Golfo da Guiné e no Sudeste da Ásia. 

Embora se preveja que a maioria dos ataques‑piratas continue a ocorrer nas regiões acima mencionadas, a possibilidade de ocorrência noutros locais não poderá ser descartada. É provável que, em 2016, a distribuição geográfica destes ataques se alastre gradualmente.

É também de prever a continuação das tendências de 2014 e 2015 no que respeita à natureza dos ataques nas águas nigerianas e à evolução de situações de desvio e roubo de petróleo para ataques cada vez mais bem coordenados, e muitas vezes violentos, que têm como alvos os navios comerciais e a respetiva tripulação, incluindo desvios de navios com longa duração e casos de sequestros, resgate e extorsão. Este risco é salientado por um conjunto de incidentes desta natureza em 2015.

A segurança marítima nas águas que banham a Indonésia, a Malásia, as Filipinas e Singapura é um motivo de preocupação de longa data na região, e está previsto que se mantenha em 2016. De acordo com relatórios de meados de 2015 do Gabinete Marítimo Internacional, houve aproximadamente dois ataques‑piratas por mês a petroleiros nas águas do Sudeste da Ásia.

Num incidente de relevo que sublinha esta tendência, e que teve lugar no dia 8 de agosto, um pequeno petroleiro registado em Singapura, MT Joaquim, foi capturado no Estreito de Malaca ao largo da costa da Malásia. 

O aumento dos ataques em águas vietnamitas e no próprio Estreito de Singapura também terá de ser acompanhado com atenção em 2016. Os esforços de segurança concertados à escala regional e internacional, em especial as medidas de segurança a bordo e os esforços nacionais e internacionais de combate à pirataria, continuam a contribuir para o declínio significativo que se está a verificar na pirataria somali desde o final de 2011.

Não obstante, a ameaça de pirataria regional ainda não foi eliminada e existem receios regionais e internacionais relativamente a um potencial aumento da pirataria.

Depois da inexistência de incidentes relatados nos primeiros seis meses de 2015, no dia 22 de novembro, um navio de pesca com bandeira iraniana foi desviado e pelo menos dez membros da tripulação foram sequestrados por presumíveis piratas ao largo da costa leste da Somália.

Informação de fontes abertas indica que o custo aproximado com medidas adicionais de combate à pirataria nas águas do leste de África para a indústria naval foi de um total de 1.300 milhões de dólares americanos em 2014. A este valor acrescem 103 milhões de dólares relativos a prémios de seguro de risco de guerra e sequestro, resgate e extorsão de navios que transitam nesta região.

Além das regiões acima referidas, os riscos de pirataria e de roubo no mar estendem‑se a outras águas. No subcontinente indiano, nos últimos 18 meses, verificou‑se um aumento dos ataques ao largo da costa do Bangladesh.

A pirataria e o roubo à mão armada continuarão a constituir potenciais riscos de segurança na América do Sul e Central e nas Caraíbas, sobretudo na imediação de portos e ancoradouros no Brasil, Peru, Haiti, Equador e na Guatemala. 

Incidentes esporádicos nesta região, como por exemplo o ataque a um iate de luxo, o Pelikaan, em águas haitianas em abril, sublinham o risco atual. Além disso, registou‑se um aumento dos incidentes na Venezuela nos últimos meses, nomeadamente perto do Lago Maracaibo.


Segurança da informação

A segurança da informação continua a ser uma ameaça generalizada, sendo que quem viaja não tem, normalmente, o mesmo grau de proteção que quando se encontra no escritório. 

Os riscos de segurança na Internet aumentam a pressão sobre os governos para que haja maior regulamentação no futuro. É imperativo que todas as partes envolvidas, dos governos às empresas, passando pelas universidades e pelos consumidores, colaborem para assegurar que a regulamentação é abrangente e pró-ativa e que diminui as vulnerabilidades de segurança e privacidade dos dispositivos ligados à Internet. 

Para as empresas que procuram tirar partido da Internet das Coisas, uma das chaves do sucesso será assegurar que as novas tecnologias são impermeáveis a ciberataques.

O aumento acelerado da utilização da tecnologia já está a demonstrar ter impacto na forma como os sequestros com pedido de resgate são perpetrados e geridos. Por outro lado, pode tratar‑se de algo positivo tanto para as potenciais vítimas quanto para quem procura libertá‑las.

Por exemplo, a Aegis Response notou que houve uma mudança na forma como se fazem as negociações com os sequestradores, tendo‑se passado do telefone para o e‑mail. O Estado Islâmico, por exemplo, usa quase exclusivamente este meio de comunicação para fazer as suas exigências. Assim, as equipas de gestão de crises têm o tempo a seu favor num ambiente com menos pressão, o que lhes permite tomar uma decisão sobre a estratégia a seguir e preparar uma resposta ideal "à porta fechada”.

No que respeita à prova de vida, existem muitas mais opções de verificação — video‑chamadas, por exemplo — que podem proporcionar uma maior certeza de que a vítima está viva e detida pelo grupo em questão.

No entanto, o uso quase indiscriminado de redes sociais e de aplicativos conhecidos de troca de mensagens cria novos problemas para a área do sequestro com pedido de resgate. As vítimas poderão agora estar vulneráveis a um simples reconhecimento da respetiva fortuna obtido através das fotografias publicadas on‑line e da informação profissional que os raptores podem investigar no conforto das suas casas, sendo o leque deescolha de potenciais vítimas muito alargado.

Já houve casos de raptores com capacidades informáticas sofisticadas que investigavam as contas bancárias das vítimas para as raptar e depois forçá-las a usar as contas bancárias on‑line para transferirem pessoalmente um valor de resgate específico para assegurar a libertação.

A bitcoin, a moeda anónima, é amplamente usada em ciberextorsões e começa agora a ser usada nas práticas de sequestro com pedido de resgate: já se conhecem casos em que os raptores exigiram que os resgates fossem pagos nesta criptomoeda.

Por exemplo, em outubro, um executivo de Hong Kong foi libertado depois de ter sido raptado e mantido em cativeiro em Taiwan durante mais de um mês por um gangue que exigiu um resgate de 9 milhões de dólares em bitcoin. No próximo ano, a trajetória desta mudança tecnológica continuará a evoluir rapidamente e – para o bem ou para o mal – é provável que haja mais mudanças no campo do tradicional sequestro com pedido de resgate.

Em suma, com base em todas as evidências, podemos deduzir com segurança que o risco de sequestro com pedido de resgate não vai desaparecer no próximo ano. Vivemos num mundo de desafios constantes, bem como de perigos em evolução. Enfrenta‑los significa compreendermos as nossas circunstâncias.
Conhecermos aquilo que nos rodeia e mantermo‑nos informados sobre o caminho que o nosso mundo está a tomar é indispensável para a nossa sobrevivência.

É importante que nos equipemos para a batalha pelo nosso futuro e pelo futuro dos nossos filhos, armados de conhecimento e com uma visão precisa do nosso mundo sem nunca perdermos de vista as coisas maravilhosas que a humanidade construiu; os atos de grandeza e de solidariedade que fazem com que a raça humana seja algo por que vale a pena lutar.


Análise detalhada dos riscos

Europa
No final de 2015, alguns dos riscos políticos e de segurança mais importantes que o mundo enfrentava foram claramente destacados por acontecimentos ocorridos na Europa, tradicionalmente a zona mais segura para negócios e viagens.

A migração para a região de dezenas de milhares de pessoas oriundas de estados dominados por conflitos ou depressões económicas da África, da Ásia e do Médio Oriente não só afetou os transportes entre diferentes países europeus e dentro dos mesmos, como causou perturbações no movimento de pessoas e bens através das fronteiras, uma vez que os estados tomaram medidas para restringir o fluxo de pessoas à procura de asilo.

Os ataques de novembro, em Paris, agravaram os receios relativamente à unidade regional e salientaram, uma vez mais, o longo alcance da ideologia extremista islamita. A relação entre a migração e os grupos de milícias foi o foco de fações de extrema‑direita e de grupos esquerdistas, que continuaram a tentar tirar partido dos receios das populações relativamente à influência que o fluxo de migrantes terá nos estados locais a longo prazo.

No próximo ano, haverá uma ameaça persistente de terrorismo por parte de grupos extremistas islâmicos internacionais e de indivíduos radicalizados e uma maior frequência de incidentes de menor grau de violência, que se confinarão a países que apresentam tensões políticas e sociais e que constituem alguns dos principais destinos preferenciais dos migrantes, como a Alemanha, a França, a Itália, a Grécia e a Hungria.

Será um ano caraterizado por uma Europa mais militarizada, pelo crescimento dos partidos nacionalistas, bem como pelo aumento das atividades de protesto e dos atos de menor grau de violência a elas associados.

Em 2016, as variantes não tradicionais de sequestro, nas suas formas físicas e virtuais, constituirão o risco mais significativo em toda e Europa e na Rússia. Os países que já têm uma componente de crime organizado bem estabelecida poderão estar sujeitos a um risco elevado; entre eles podem contar‑se a Rússia, os países da Europa de Leste, a Espanha, a Grécia e outros.

Um outro foco de ameaça será o composto por indivíduos oportunistas, motivados pelo lucro ou por ressentimentos pessoais; antigos funcionários descontentes, sócios de empresas, fornecedores ou indivíduos mal‑intencionados podem constituir um risco de segurança para operações empresariais, assim como riscos reputacionais difíceis de quantificar. 

Os recentes incidentes que afetam a continuidade da atividade empresarial, como a extorsão contínua à cadeia de supermercados holandesa, Jumbo, são um claro exemplo desta ameaça, bem como dos desafios que as vítimas poderão ter de enfrentar para a superar. 

Durante sete meses, indivíduos anónimos ameaçaram colocar explosivos em lojas da Jumbo em diferentes localidades da Holanda. Os responsáveis por estas ameaças exigiam o pagamento de um resgate na moeda digital anónima bitcoin. A situação agravou‑se quando, entre maio e agosto, foram efetivamente detonados explosivos em várias lojas da cadeia holandesa. Há medida que as investigações prosseguiam a empresa foi forçada a aumentar a segurança em mais de 500 filiais de todo o país.

Além disso, entidades políticas, hacktivistas, anti‑União Europeia, ultranacionalistas, anarquistas ou extremistas poderão optar por recorrer à extorsão/ciberextorsão tendo como alvo pessoas ou empresas relacionadas com desenvolvimentos nacionais, regionais ou internacionais.

Os ciberataques de grande escala levados a cabo por grupos estatais/não‑estatais não confirmados contra várias grandes empresas europeias e instituições financeiras e políticas, em 2015, demonstram que os extorsionistas digitais e cibernéticos são capazes de se infiltrar numa variedade de alvos destacados. Devido ao ciberataque que teve como alvo o Bundestag (Parlamento) alemão em maio de 2015, esta instituição poderá ter de reformular completamente o seu sistema informático, o que tem um custo de vários milhões de euros.

Entre outros ataques de grande escala, refira‑se o ataque on‑line à televisão francesa TV5Monde, em abril, durante o qual vários canais e plataformas de redes sociais da estação foram retirados do ar, tendo sido transmitido material negativo relacionado com a ação militar francesa no Iraque.


Turquia, setembro de 2015:
O filho de 13 anos de um destacado empresário sírio foi sequestrado, em Istambul, sendo o pedido de resgate de um milhão de dólares. Foi libertado pelas forças policiais numa operação de segurança que envolveu um resgate falso.

Letónia, maio de 2015:
Dois executivos estrangeiros foram vítimas de uma tentativa de sequestro junto ao hotel em que estavam hospedados na capital, Riga. Foram presos sete suspeitos durante uma operação policial com elementos infiltrados quando tentavam transportar os reféns, um irlandês e um sueco, para um local não divulgado.

França, agosto de 2015:
Um milionário local foi sequestrado na sua residência, em França, e depois transportado para Marbella, em Espanha, onde foi mantido como refém por um grupo, já experiente, de sequestradores durante dois meses. Na sequência do sequestro, foi obrigado a ligar para a família dizendo que tinha tirado umas férias inesperadas; o gangue extorquiu‑lhe aproximadamente 1,37 milhões de dólares e, após a libertação, exigiu que continuasse a pagar um montante de 106 000 dólares por semana.

Alemanha, agosto de 2015:
A filha de 17 anos de um empresário da Saxónia foi sequestrada e morta pelos criminosos pouco depois de estes terem feito um pedido de resgate de 1,27 milhões de euros. Esta morte ocorreu apesar de a família ter afirmado publicamente que faria o pagamento. Os criminosos eram inexperientes e procuravam dinheiro "fácil”; escolheram a vítima depois de terem visto a sua página de Facebook e de terem lido informação sobre a família. Alegadamente, um dos criminosos vigiava a vítima enquanto esta passeava o cão na mesma zona em que ele passeava o seu.

Rússia, agosto de 2015:
A polícia prendeu seis membros de um gangue de extorsão na sequência do sequestro de um conhecido empresário local. A vítima foi capturada na viatura em que seguia, tendo‑lhe sido injetada uma substância que os sequestradores afirmavam ser veneno letal. Foi‑lhe dito que receberia um antídoto se satisfizesse as exigências financeiras dos sequestradores – o pedido final de resgate foi de 106.000 dólares. A vítima terá contactado a família e providenciado o pagamento, tendo‑lhe depois sido dado um antídoto não revelado. 

Alemanha, junho de 2015:
O filho de 50 anos, deficiente mental, do dono do Grupo Wurth, foi raptado do lar para pessoas com deficiência onde se encontrava, perto de Frankfurt, e mantido como refém enquanto os autores do crime pediam o pagamento de um resgate de aproximadamente 2,3 milhões de dólares. O pai da vítima teria alegadamente uma fortuna líquida de 7,2 mil milhões de dólares. Depois de terem tido conhecimento da enorme operação policial que estava em curso, os criminosos deixaram o refém amarrado a uma árvore numa floresta perto de Würzburg.

Américas
Nas Américas, a desaceleração do crescimento serviu para pressionar governos populistas que se baseiam em políticas de despesa social muito elevada. Já se verificou uma alteração na liderança na Argentina e são esperadas novas convulsões políticas. A pressão dos grupos da oposição e das populações da classe média que deixaram de  apoiar os governos já aumentou em vários paises‑chave, como o Brasil, a Venezuela e o Equador. 
A instabilidade social associada a estas pressões continuará a ser uma preocupação e um risco essencial, pelo que, em 2016, quem viajar em negócios como quem viajar por outras razões deverá tomar medidas de mitigação de risco. A América Latina passou por um período de crescimento económico sem precedentes entre o início do século e 2013, que retirou dezenas de milhares de pessoas da pobreza e as levou a classe média. Este sucesso deveu‑se em grande medida à exportação de bens para os quais havia muita procura por parte dos países asiáticos. 

As recentes diminuições na procura tiveram como resultado o aumento das taxas de pobreza e o abrandamento do crescimento nas maiores economias da região. Esta contração económica coincidiu com um crescimento do sentimento antigoverno e parece estar a contribuir para que este sentimento aumente nas classes mais desfavorecidas, que estão a sentir o impacto direto da crise, e na classe média que, tradicionalmente, é mais propensa a responsabilizar o governo.

Além dos perturbadores e violentos protestos relacionados diretamente com a economia, vieram ainda à tona em diversas zonas ressentimentos antigos, como a corrupção, a deficiente gestão estatal, as preocupações ambientais, as reformas políticas e os direitos das populações indígenas.

A atividade criminosa organizada, especialmente no México e noutros países da América Central, manter-se-á em níveis elevados ao longo de 2016. A ligação entre as redes de crime organizado e as elites políticas continuará a ser trazida a público e, em algumas zonas, estas ligações poderão romper‑se na sequência de reformas políticas ou mudanças na liderança.

Em algumas regiões, a relação entre a política e o crime organizado poderá ser reforçada, incluindo em El Salvador, onde os gangues locais, que se estima que tenham 70 000 membros, aumentaram a sua atividade em 2015, em resposta às medidas repressivas do governo. Em geral, é provável que a contração económica, contrariando as tentativas dos estados de travar a atividade criminosa (incluindo a produção e o contrabando de droga) venha, ao invés, a beneficiar grupos criminosos.

Em 2016, o risco de sequestro, resgate e extorsão continuará a ser um dos principais riscos de segurança para pessoas e empresas que operem em locais de alto risco da América do Sul e Central e das Caraíbas, uma região há muito reconhecida como o centro de sequestros do mundo.
Os sequestros tradicionais e de curta duração para obter ganhos financeiros continuarão a afetar cidadãos locais e estrangeiros durante o ano

Alemanha, junho de 2015:
O filho de 50 anos, deficiente mental, do dono do Grupo Wurth, foi raptado do lar para pessoas com deficiência onde se encontrava, perto de Frankfurt, e mantido como refém enquanto os autores do crime pediam o pagamento de um resgate de aproximadamente 2,3 milhões de dólares. O pai da vítima teria alegadamente uma fortuna líquida de 7,2 mil milhões de dólares. Depois de terem tido conhecimento da enorme operação policial que estava em curso, os criminosos deixaram o refém amarrado a uma árvore numa floresta perto de Würzburg.

Américas
Nas Américas, a desaceleração do crescimento serviu para pressionar governos populistas que se baseiam em políticas de despesa social muito elevada. Já se verificou uma alteração na liderança na Argentina e são esperadas novas convulsões políticas. A pressão dos grupos da oposição e das populações da classe média que deixaram de apoiar os governos já aumentou em vários países‑chave, como o Brasil, a Venezuela e o Equador.

A instabilidade social associada a estas pressões continuará a ser uma preocupação e um risco essencial, pelo que, em 2016, quem viajar em negócios como quem viajar por outras razões deverá tomar medidas de mitigação de risco. 

A América Latina passou por um período de crescimento económico sem precedentes entre o início do século e 2013, que retirou dezenas de milhares de pessoas da pobreza e as levou a classe média. Este sucesso deveu‑se em grande medida à exportação de bens para os quais havia muita procura por parte dos países asiáticos.

As recentes diminuições na procura tiveram como resultado o aumento das taxas de pobreza e o abrandamento do crescimento nas maiores economias da região. Esta contração económica de 2016, não só no México e na Venezuela, mas também na Colômbia, na Argentina, no Brasil, em El Salvador, na Guatemala, nas Honduras, no Haiti e noutros países, embora a níveis diferenciados.

Além disso, estima‑se que as ameaças constituídas pelo "sequestro‑relâmpago” e virtual e pela ciberextorsão venham a aumentar. Os casos de extorsão realizada e tentada, seja de funcionários locais ou estrangeiros, poderão dificultar as atividades empresariais e afetar as margens de lucro. Num exemplo destes casos, um centro de distribuição da Coca‑Cola em Guerrero, no México, foi encerrado em junho de 2015, alegadamente devido a tentativas reiteradas de extorsão por parte de um grupo criminoso.

Além das ameaças de violência, que serão usadas para forçar a realização de pagamentos, incidentes anteriores ocorridos no México e na Venezuela, indiciam que há grupos que poderão atacar fisicamente infraestruturas críticas, como sejam oleodutos, fábricas e serviços de transportes, como forma de exigir pagamentos. É provável que se verifique um aumento na atividade de extorsão em zonas com previsão de aumento do investimento estrangeiro em 2016.

Irão ocorrer com regularidade "sequestros‑relâmpago”, com potencial de evolução para casos mais duradouros de sequestro com pedido de resgate, dependendo das circunstâncias, dos perpetradores e das vítimas. A morte de um turista espanhol durante um "sequestro‑relâmpago” na cidade de Maracaibo, na Venezuela em dezembro de 2014, bem como desenlaces fatais semelhantes em casos ocorridos noutros locais da região, mostram o potencial de evolução deste tipo de incidentes para desfechos violentos. 

Além disso, a frequência e o alcance dos sequestros virtuais aumentou na América do Sul e Central durante o ano passado. Os sequestros virtuais, que muitas vezes têm origem em indivíduos que estão na prisão, têm vindo cada vez mais a incluir um elemento de cibercrime; a vigilância de potenciais vítimas é cada vez mais assegurada por meio do uso das redes sociais ou através de dados de identidade roubados.

Por exemplo, em 2015, entidades criminosas sediadas na América do Sul orquestraram sequestros virtuais, que tinham como alvo vítimas nos EUA e em Espanha. Em 2016, prevê-se um novo aumento do número de incidentes, quer a nível nacional quer além-fronteiras. 

Estima‑se ainda que os níveis de sequestro de longa duração se mantenham mais elevados no México e na Venezuela.

Os sequestros perpetrados por grupos de crime organizado continuarão a constituir um risco de segurança em países como a Argentina e o Brasil, ao passo que a situação de persistente ilegalidade e as elevadas taxas de criminalidade (e de homicídios, em particular) em El Salvador, no Haiti e nas Honduras contribuirão para manter elevado o atual risco de sequestro nestes países. Por fim, a atividade de protesto político e/ou comunitário é comum em ambientes em que o risco de sequestro é menor, como a Bolívia, o Equador, o Peru, o Chile e o Paraguai.

A possibilidade de os turistas serem afetados não pode ser descartada. Em 2015, aproximadamente 40 turistas foram detidos de um dia para o outro por membros de comunidades em protesto do Peru.

Médio Oriente e Norte de África
Os problemas de segurança e políticos no Médio Oriente e no Norte de África continuam a fazer‑se sentir fortemente. Em 2016, os conflitos na Síria, no Iémen e na Líbia, a ameaça constante do Estado Islâmico (EI) e dos diversos grupos afiliados e a tensão crescente entre as duas potências da região — a Arábia Saudita e o Irão — ameaçam trazer a este palco, ainda mais do quem 2016, os grandes poderes mundiais, assim como acentuar as tensões, já elevadas, entre as diferentes fações. 

A perspetiva de um final para os vários conflitos da região continua a ser remota, à medida que o risco de conflito entre os estados continua a aumentar. O conflito de grande escala na Síria continua a afetar o ambiente de segurança e a estabilidade política dos estados de toda a região.

As grandes potências regionais e mundiais veem cada vez mais a Síria como um campo de batalha em que é preciso conservar ou reforçar a influência e recorrem a intermediários para apoiar ou derrubar o regime de Bashar al‑Assad ou para conter um conflito cada vez mais sangrento e que, provavelmente, se prolongará por muitos anos.

O apoio do Ocidente, da Arábia Saudita, da Turquia, da Jordânia e do Qatar às forças anti‑Bashar al‑Assad e o apoio do Irão, da China e do Hezbollah ao regime de Assad deverão acentuar‑se durante o ano de 2016. O envolvimento de tantos estados e, consequentemente, de alianças militares alargadas, como a OTAN, servirá para aumentar o risco de conflitos de pequena escala entre países.

O apoio declarado da Arábia Saudita ao regime de Abd Rabbuh Mansur Hadi no Iémen tem sido significativo. Os combates no país, que se prevê que se venham a manter em 2016, fizeram milhares de mortos e continuaram a devastar o estado do Iémen.

No instável Bahrein, continuará a verificar‑se o apoio do Irão aos protestantes xiitas contra a minoria sunita e persistir o regime do Bahrein apoiado pela Arábia Saudita, sendo que o apoio político poderá vir a ser cada vez mais acompanhado de recursos de vária ordem.

Desde a instauração de um califado em junho de 2014, com Abu Bakr al‑Baghdadi como califa, o EI continuou a ganhar terreno, embora a um ritmo mais baixo em comparação com as vitórias de 2014 sobre os militares iraquianos. Em maio de 2015, o grupo tomou Ramadi e, apesar de ter perdido território na província iraquiana de Diyala e no norte da Síria para os curdos, conseguiu manter Raqqa, Mosul, Fallujah e partes de Ramadi. 

Em 2016, o EI procurará reforçar as defesas em Anbar, principal província sunita, e continuará a hostilizar as forças pro‑iraquianas noutras partes do país. Na Síria, o EI irá concentrar‑se na província de Alepo, de forma a conquistar terreno ao regime e às forças rebeldes, sem deixar de procurar novos avanços para o centro da Síria.

O rápido crescimento do EI na Síria e no Iraque coincidiu com o surgimento de vários grupos afiliados ou províncias do EI na região e no globo. Surgiram províncias no Norte de África (Egito, Líbia e Tunísia), na Península Arábica (Iémen e Arábia Saudita), na Ásia (Bangladesh e Afeganistão) e na África (Somália e Nigéria). Muitos destes "novos” grupos são simplesmente antigos agrupamentos da Al-Qaeda com um novo nome. Estes grupos poderão constituir uma ameaça significativa para os interesses estrangeiros e para os setores turísticos locais.

É provável que em 2016 se verifique a continuação de ataques de grande escala e com grande número de vítimas no Egito, na Líbia, na Argélia, no Iémen e nos estados do Golfo Pérsico.

O EI desempenhou um papel importantíssimo na promoção do sectarismo. Desde que, em meados de 2014, se tornou uma grande potência regional, a sua máquina de propaganda apresentou os xiitas, os estados apóstatas (os que estão em coligação contra o EI) e os infiéis (as forças estrangeiras) como os inimigos óbvios.

O estabelecimento de um califado por parte do grupo e os assinaláveis êxitos no campo de batalha atraíram milhares de novos recrutas de todo o mundo para as fileiras. As comunidades mistas, como Trípoli na Líbia, Beirute no Líbano e a Província Oriental da Arábia Saudita, que faz fronteira com o Bahrein, tornar-se-ão cada vez mais áreas de risco de confrontos.

O sequestro com fins financeiros, políticos e ideológicos será um risco de segurança importante em muitos países da região do Médio Oriente e do Norte de África (MONA) em 2016. Por sua vez, os riscos de sequestro já existentes por parte de grupos criminosos, extremistas e milícias continuarão a ser elevados.

Os antecedentes mostram que, em comparação com outras regiões, o potencial de resultados negativos em incidentes de sequestro na região do MONA é elevado. Isto ficou claramente demonstrado pelo rapto e pela subsequente execução de dezenas de cidadãos estrangeiros (incluindo chineses, egípcios, noruegueses, britânicos e norte‑americanos) por parte do EI e de grupos afiliados. No passado, o EI fez exigências financeiras para a libertação dos reféns na Síria. 

Em 2015, o grupo exigiu 200 milhões de dólares para o pagamento do resgate de um refém chinês e de um japonês, e 6,2 milhões de dólares para o resgate de um cidadão norte‑americano de 26 anos. A ameaça tem origem em pessoas ou grupos afiliados do EI, bem como em simpatizantes desconhecidos da organização.

O sequestro e a execução de um turista francês no nordeste da Argélia ilustram bem esta ameaça. Além disso, a possibilidade de ocorrência de sequestros oportunistas e de incidentes de tomada de reféns de curta duração, em países com um nível de ameaça médio ou até baixo, poderá aumentar.

O sequestro e a decapitação de um cidadão croata perto do Cairo, no Egito, em 2015, por um grupo afiliado do EI anteriormente desconhecido é um exemplo desta nova ameaça constituída por grupos de milícias pouco conhecidos mas ávidos de chamar a atenção e obter o apoio do EI.

Os pedidos de resgate e de pagamentos aumentaram em países como a Líbia, a Síria e o Iémen, dado o aproveitamento, por parte de grupos não afiliados do EI, de um crescente receio relativamente a um desenlace infeliz nas situações de tomada de reféns – situação decorrente da execução de reféns estrangeiros pelo EI.

A este fato acresce um conjunto de casos em se acredita que grupos criminosos pouco sofisticados "venderam” reféns estrangeiros ao EI, depois de Ao submeter‑se ao EI, o Boko Haram comprometeu‑se efetivamente a seguir o plano do EI, que pretende criar um califado islâmico unificado abrangendo as regiões dominadas pelos muçulmanos no mundo.

Embora se estime que a ameaça terrorista em Lagos seja mais forte na região continental mais densamente povoada da cidade, a ameaça irá alargar‑se aos bairros comerciais das ilhas de Victoria e de Lagos, que acolhem quer diplomatas estrangeiros quer diversos interesses empresariais.

No Chade, é provável que os atos de terrorismo continuem na capital, N’Djamena, que também poderá servir como base operacional de uma força regional mandatada para liderar as operações de contraterrorismo contra o Boko Haram em 2016.

No vizinho Níger é de prever, com algum grau de credibilidade, a expansão da atividade do Boko Haram para as regiões de Zinder e Dosso, no sul e sudoeste respetivamente, onde um conjunto de organizações humanitárias tem sediadas as suas operações.


África subsariana
O sequestro com o objetivo de pedido de resgate, bem como variantes de curta duração, como a extorsão ou o "sequestro‑relampago”, continuarão a ser uma preocupação de segurança prioritária em muitos países da África subsariana, onde o risco de sequestro é elevado e o número de casos poderá aumentar de frequência em alguns locais de baixo ou médio risco.

Os cidadãos estrangeiros envolvidos nos setores da construção e/ou engenharia tem‑se revelado como alvos frequentes, sobretudo na Nigéria. Esta tendência deverá manter‑se em 2016. Além disso, as pessoas que viajam durante períodos longos em negócios e os expatriados enfrentarão igualmente uma ameaça elevada de sequestro.

Ainda o facto do sequestro de cidadão locais, funcionários de empresas estrangeiras, continuar a ser um grande motivo de preocupação em países de alto risco.

Em 2016, a presença e as atividades de grupos criminosos bem organizados em ambientes relativamente estáveis e seguros no seio da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), como o Quénia, Moçambique e a África do Sul, poderá continuar a contribuir para aquela que se pode tornar uma indústria de sequestro e extorsão cada vez mais integrada.

É ainda de prever que, em 2016, ocorram sequestros esporádicos de cidadãos locais e estrangeiros levados a cabo por grupos extremistas, bem como tomadas de reféns de curta duração, como aquela que aconteceu no hotel Radisson Blu em Bamako, capital do Mali, que fez aproximadamente 19 mortos.

O rapto de um cidadão romeno numa mina com segurança deficiente no norte do Burkina Faso pelo al‑Mourabitoun, grupo dissidente do AQIM1, em agosto de 2015, é um bom exemplo do quão perigoso é trabalhar em regiões inseguras sem que sejam tomadas medidas adequadas de mitigação de risco.

Ásia
Em 2016, o principal problema de segurança na região da Ásia continuará a ser o conflito no Afeganistão. Por sua vez, o aparecimento de outros agrupamentos ligados ao EI no sul e sudoeste da Ásia e na Austrália atrairá a atenção popular e será um motivo de preocupação para as agências de segurança estrangeiras e locais.

O Afeganistão serviu de viveiro para os extremistas islâmicos e a ameaça de um maior alastramento para os países vizinhos é uma probabilidade que se mantém de forma persistente. A relação entre as ameaças políticas e de segurança e os níveis de sequestro, resgate e extorsão mantem‑se significativa e, nas áreas em que os riscos referidos estão presentes, os níveis de ameaça de sequestro e as taxas de ocorrência são, em geral, elevados. Os tipos de riscos de sequestro, resgate e extorsão associados às viagens ou ao trabalho desenvolvido em cada região são cada vez mais diversificados.

O agravamento do conflito no Afeganistão deverá afetar negativamente a segurança dos países vizinhos do norte – Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão –, ainda que de forma indireta. Há muitos cidadãos de países da Ásia Central que estão a lutar em grupos de milícias no estrangeiro, incluindo nos estados mencionados acima e no Quirguistão. Estimativas sobre o número de combatentes da Ásia Central apontam para valores na ordem dos 1.000 a 1.500 só na Síria. As operações de segurança na Austrália também subiram em flecha devido aos receios do governo de que se verifiquem casos de radicalização entre a população.

Na sequência do «Cerco a Sidney» em dezembro de 2014, uma crise de reféns provocada por uma única pessoa, aparentemente inspirada pelo EI e, mais recentemente, em outubro de 2015, do caso isolado de tiroteio em Parramatta, os serviços de informação australianos intensificaram a vigilância aos suspeitos de simpatias extremistas, tendo efetuado diversas rusgas e detenções. Em setembro e outubro foram assassinados no Bangladesh um cidadão italiano e um japonês, sem ligação aparente. 

Em 2016, o sequestro, nas suas várias formas, constituirá um risco credível de segurança para funcionários locais e estrangeiros, bem como para interesses empresariais em muitos locais da Ásia. 

A ameaça de sequestros com motivações financeiras continuará a ser significativa em várias zonas da região. Embora o risco de sequestro por parte de grupos islâmicos extremistas tenha concentrado a atenção da comunicação social em 2015, nomeadamente no que respeita a taxas de frequência, a principal causa de ameaça de sequestro na maioria dos países da Ásia continua a dever‑se a grupos criminosos e não se antevê uma mudança significativa em 2016.

O risco de "sequestros‑relâmpago” será mais elevado para pessoas que trabalhem em grandes cidades do Bangladesh, da China, de Hong Kong, da Índia, da Indonésia, da Malásia, das Filipinas e de Taiwan. A taxa de sequestros na Índia, país com mais de 40 000 sequestros registados por ano, deverá manter‑se como uma das mais elevadas do mundo em 2016.

A frequência de casos de sequestro virtual está também a aumentar. Em 2016, prevê-se que o risco tenha uma maior incidência na Índia, em Taiwan, em Hong Kong e na China. Na Índia e no Bangladesh, a previsão é a de que os gangues de "tiger kidnapping”2 continuem a ter como alvos organizações com elevada liquidez, como bancos e instituições financeiras, bem como joalharias e outras lojas de luxo. 
A ciberextorsão poderá constituir‑se como um risco de segurança significativo para pessoas e empresas em 2016.

A extorsão continua a ser endémica em áreas inseguras e afetadas por conflitos como o Afeganistão, o Paquistão e as Filipinas, onde os grupos rebeldes, as milícias e os respetivos homólogos criminosos levam a cabo ações de extorsão bem organizadas que têm como alvo vários setores. Entre os contextos de alto risco contam‑se o Bangladesh, a Índia e a Papua‑Nova Guiné. No entanto, a extorsão não se limitará aos destinos de alto risco acima mencionados.

Em 2015, registaram‑se casos frequentes de extorsão na China, em Taiwan, em Hong Kong, na Indonésia, na Malásia, em Singapura e no Sri Lanka.

A detenção injustificada ou ilegal por grupos estatais ou não estatais constituirá um risco para pessoas e empresas em alguns países da Ásia em 2016. A China, onde a detenção injustificada de quadros superiores por funcionários e parceiros de negócios/fornecedores é uma resposta comum a diferendos e desentendimentos empresariais, emergiu como um ponto crítico específico.

Além disso, as detenções injustificadas realizadas por entidades governamentais oficiais continuarão a ser um motivo de preocupação para quem viaja em negócios ou lazer. 

Os viajantes asiáticos enfrentam um risco geral de sequestro mais elevado em muitos países da região devido à fortuna aparente, história/cultura de pagamento de resgates e ao facto de ser menos provável que atraiam o tipo de atenção dos meios de comunicação associado ao sequestro de cidadãos ocidentais. Os cidadãos da China, da Coreia do Sul, de Taiwan e da Malásia, especificamente, estão sujeitos a um risco de sequestro elevado em vários estados asiáticos.

Na Filipinas a ameaça criminosa de sequestro continuará a ser elevada nas zonas agitadas do sul, bem como em centros urbanos, como a capital, Manila. Os centros urbanos de destinos de risco baixo e médio, como a Malásia, a Indonésia, a China, Hong Kong, Singapura e Taiwan, não estão imunes à ameaça de sequestro, resgate e extorsão.

Especificamente, o rapto de funcionários de empresas, designado "sequestro económico”, está a tornar‑se rapidamente num negócio lucrativo. As pessoas que trabalham no setor do retalho e da indústria estão sujeitas a um risco mais elevado.

Além disso, as pessoas com património líquido elevado, e os respetivos dependentes, são um alvo prioritário dos grupos criminosos, como demonstram os vários casos de grande visibilidade ocorridos em Hong Kong, em Taiwan e em Singapura em 2015.

Acresce que, embora não constituindo o risco principal, o risco de sequestro por grupos extremistas islamitas, grupos motivados politicamente, grupos rebeldes e grupos separatistas em alguns locais de países de alto risco e de risco extremo continuará a ser elevado. 


Por Iulia Simon, Senior VP Marketing, CH Toro International


1 AQIM - Al-Qaeda in the Islamic Magreb (Al-Qaeda no Magrebe Islâmico).
2 É um sequestro em que um ou mais reféns são raptados com o intuito de coagir outra pessoa, geralmente alguém com uma relação de parentesco com a pessoa ou pessoas detidas, para participar num crime (Definição do Dicionário Inglês da Collins).
Descubra o mundo MDS