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Uutilização de soluções de seguro paramétrico para segurar riscos catastróficos

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Porque seguramos riscos de catástrofes, como sismos, tempestades e inundações com franquias tão elevadas? Por que razão não podemos proporcionar aos nossos clientes um acesso a capital simples e rápido no momento em que mais precisam? Porque será necessária tanta informação para subscrever os riscos catastróficos e também para que os sinistros sejam indemnizados?

E se existir uma opção melhor? Um seguro catastrófico sem franquia? Um seguro catastrófico que proporcione capital em 10 dias úteis? Um seguro catastrófico com preços que podem ser definidos em poucos dias, sem necessidade de fornecimento de informação altamente confidencial ou difícil de obter?

Estamos no limiar de uma nova era nos seguros catastróficos que permitirá que os profissionais de gestão de risco apresentem soluções de seguro simples e diretas onde e quando os clientes mais precisem.

A solução – o seguro paramétrico – é uma evolução natural da utilização pelos mercados de capital das Catastrophe Bonds. As CAT Bonds são um exemplo de uma insurance linked security (obrigação ligada a um seguro) que transfere um conjunto específico de riscos (geralmente riscos de catástrofes ou desastres naturais) de um emitente ou patrocinador para investidores.
 
Desta forma, os investidores assumem o risco de uma catástrofe ou acontecimento especificado que venha a ocorrer em troca de taxas de juro atrativas. Em caso de ocorrência de uma catástrofe ou de um acontecimento previsto, os investidores perderão o capital investido e o emitente (em grande parte dos casos, uma companhia de seguros ou resseguro) receberá esse capital para cobrir as perdas.
 
As Catastrophe Bonds são usadas por seguradores, sobretudo como uma alternativa ao resseguro para a cobertura do risco de furacões, sismos, tufões, tempestades, temporais, quedas de granizo e até riscos relacionados com o seguro de vida, como a longevidade e as indemnizações de seguro de saúde.

Recentemente, outros grandes compradores de resseguro, como a Autoridade Metropolitana de Transportes do Estado de Nova Iorque (MAT – Metropolitan Transportation Authority) e a AMTRAK (a empresa de transporte ferroviário de passageiros que fornece serviços de média e longa distância nos Estados Unidos) também usaram as CAT Bonds para proporcionar um acesso imediato a capital para o risco de tempestades em Manhattan e área circundante, uma região onde existe uma maior concentração de ativos e infraestruturas.

Ainda mais recentemente, os países membros de uma facility de risco catastrófico nas Caraíbas receberam um pagamento de 29,2 milhões de dólares americanos no prazo de 14 dias por indemnizações relacionadas com o furacão Matthew.

Embora muitos seguradores olhem para as CAT Bonds apenas como uma forma de reduzir os custos com resseguro, as maiores companhias de seguros estão a encontrar formas de alavancar as suas capacidades e os seus balanços através da conceção de soluções de seguro paramétrico que lhes permitem criar novos mercados para as suas capacidades.
 
Um dos principais desafios das CAT Bonds tem a ver com o tempo que demoram a ser estruturadas (muitas vezes superior a 90 dias) e com o facto de se adequarem apenas a grandes transações, devido aos custos relacionados com os bancos de investimento e os assessores jurídicos.
 
Para as organizações que não podem beneficiar das CAT Bonds mas que querem obter os benefícios das mesmas, o seguro paramétrico pode ser uma solução muito interessante. Tal como as CAT Bonds, o seguro paramétrico pode ser estruturado numa base anual ou plurianual (habitualmente apólices de três anos com pagamentos anuais).
 
O seguro pode ser concebido à medida por forma a proporcionar cobertura para uma carteira de riscos sobre o património – subsegmentos da carteira ou a carteira na sua totalidade –, para danos patrimoniais ou apenas perdas de exploração por interrupção da atividade, ou, até, exclusivamente para perdas de exploração decorrentes da cadeia de abastecimento (supply chain) de uma organização.

Uma utilização recente e inovadora do seguro paramétrico consistiu em segurar o risco de sismo associado à carteira de hipotecas de uma grande instituição financeira. O banco pretendia um acesso rápido a capital em caso de ocorrência de um sismo de grandes dimensões para poder financiar os seus negócios de hipotecas. Entre os usos mais habituais do seguro paramétrico, contam se o financiamento ou a redução da franquia de sismo ou tempestade de ventos para setores tão diversos como o do imobiliário e das grandes empresas de energia.
 
Ao contrário do que acontece no seguro tradicional, não é necessária informação para a subscrição e o segurado não tem de divulgar nenhuma informação aos subscritores sobre a sua carteira de riscos patrimoniais uma vez que os seguradores estão a subscrever a probabilidade de o evento acionar a cobertura e não a tentar determinar o dano que será causado.

Dado que os triggers de cobertura são extremamente importantes, a maioria das organizações optará por utilizar uma empresa de modelização de catástrofes independente, como a AIR Worldwide, para modelizar a exposição da organização a vários triggers.
 
Os modelos podem ser utilizados pela organização para estruturar, da melhor forma possível, o trigger que for mais adequado para a organização e não para os subscritores.

Por exemplo, a estruturação de um programa típico poderia prever uma cobertura em caso de sismo com magnitude de 7,5 (trigger 1) num raio de ação de 120 km de São Francisco (trigger 2). Podem ser estruturados programas mais complexos, que prevejam mais de dois triggers, por exemplo, um sismo numa região e uma tempestade noutra.
 
Uma vez que a cobertura se baseia, habitualmente, num trigger relacionado com a magnitude e com o raio de ação, o seguro paramétrico oferece garantias de proteção. Em termos simples, se o evento que aciona a cobertura ocorrer, o pagamento é realizado.

Não é necessária a intervenção de peritos, uma vez que não existe nada para calcular. Devido à sua estrutura simples, o seguro paramétrico proporciona um acesso imediato a capital após um evento que aciona a cobertura, sendo as indemnizações pagas na totalidade em apenas 10 dias úteis a contar a partir desse evento. Os fundos podem ser utilizados, conforme for necessário, para qualquer fim.
 
O seguro paramétrico pode também ser divulgado pró ativamente tanto aos reguladores quanto aos acionistas por forma a mitigar as preocupações relacionadas com riscos catastróficos. Os reguladores verão o seguro como suporte dos modelos de adequação de capital, e os acionistas podem ser tranquilizados sabendo que existe um seguro em caso de catástrofe de grandes dimensões.

Com uma importância crescente, o seguro paramétrico apoia e é compatível com a maioria das práticas de gestão integrada de riscos de uma organização.
 
Num momento em que cada vez mais organizações procuram soluções para fazer frente à exposição a perdas financeiras significativas decorrentes de riscos catastróficos, as soluções de seguro paramétrico podem ser utilizadas para proporcionar um acesso rápido a capital em caso de uma catástrofe, sem a complexidade e o custo associados às CAT Bonds.

Seguradores e corretores começam a adotar soluções de seguro paramétrico e a (r)evolução chegará quando as empresas de média dimensão conseguirem ter acesso a estas soluções eficazes para os riscos catastróficos associados às suas operações.


Por Jamie F. Crystal, Executive Vice President na Crystal & Company

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