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Risk 2.0 - Redes sociais e risco gerado pelo utilizador

Dossier Novos Riscos

Risk 2.0 - Redes sociais e risco gerado pelo utilizador
Os padrões comunicativos têm mudado radicalmente nos tempos recentes, com a crescente relevância e agitação em torno das plataformas sociais na Internet. Sendo as plataformas sociais um sólido alicerce da Rede 2.0, as redes sociais combinam a tecnologia e a sociologia para oferecer um poderoso amplificador das nossas relações, colocando quem publica informação (tanto a nível pessoal como institucional) no centro do fluxo comunicativo.

Esta nova era da comunicação alimenta-se da interação social supersónica, da participação pessoal, retorno de opinião imediato sobre ideias e da construção de reputações num ambiente muito exigente, através de tecnologias baseadas na Internet. A informação que atualmente partilhamos no nosso quotidiano pessoal (e, muito provavelmente, profissional) já não tem origem em fontes limitadas.

Os meios de comunicação como jornais, televisões, cartazes publicitários de exterior, estações de rádio e revistas estão a deixar-se ultrapassar e a perder impulso todos os dias, agora que enfrentam a concorrência feroz de uma plataforma comunicativa que dá as boas-vindas a quem quiser participar, que congrega uma miríade de opiniões, ideias, reflexões e, o que não é de somenos importância, é interativa: os utilizadores podem comentar, replicar, questionar, discordar ou apoiar.


Do seu teclado para o mundo
Este novo fluxo de comunicação acontece reiterada e simultaneamente, de forma inquantificável, em plataformas baseadas na Internet. Mais do que isso: as redes sociais tomaram de assalto as tabelas de posicionamento na Internet e assumem posições dominantes nas preferências dos utilizadores.

Quando comparamos os sítios mais visitados na Internet em 2010 com números de 2005, podemos ver que 4 novas plataformas sociais entraram no Top 10, enquanto alguns participantes, outrora cimeiros na rede — ebay. com, amazon.com, Microsoft.com, aol.com e go.com — já não contam entre os mais visitados. Todas as plataformas baseadas em estruturas de rede social se podem orgulhar de uma enorme base de utilizadores e, assim, representam um mercado exponencial para as ideias, opiniões, pensamentos, tendências mas também produtos e serviços de utilizadores privados ou profissionais. 
A avaliação do potencial de mercado das redes sociais pode ser compreendida se atentarmos na análise dos grandes números do Facebook1:

• 500 milhões de utilizadores ativos (mais do que toda a população dos EUA).
• 700 mil milhões de minutos / meses de utilização.
• Utilizador médio cria 90 itens de conteúdo por mês.
• 30 mil milhões de itens de conteúdo partilhados por mês

Com este impacto maciço, as redes sociais encontram-se no fulcro de várias discussões e controvérsias que hoje têm lugar: tratem elas de questões de privacidade ou segurança, de desinformação ou manipulação de comportamentos e opiniões.

Contudo, o número de falhanços e percalços não tem chegado para travar o que nos parece uma ferramenta de autoexpressão imparável. A principal característica deste novo fenómeno é a expressão completa, inelutável e incondicionada tanto de indivíduos como de empresas. Felizmente, a autoexpressão, por si, não é novidade: mas a dimensão do público é!

Como plataformas de troca de informação, as redes sociais revelaram um campo de experimentação para os agentes comerciais que antes estava oculto e agora se torna acessível. Ao considerarmos um conector que liga instantaneamente uma empresa a milhares de potenciais consumidores, clientes, concorrentes, fornecedores e praticamente todos os intervenientes fundamentais na nossa atividade comercial, é fácil compreender o seu impacto. Mas as redes sociais não servem apenas para construir pontes entre pessoas ou instituições.

Provavelmente, a tríade de fatores mais apelativos que hoje levam milhões de empresas às redes sociais é composta por i) receção instantânea de opiniões sobre ideias, conceitos, produtos e perturbações; ii) a emergência de um canal de venda direto para os clientes e iii) desenvolvimento e construção quase instantâneos de reputações. As redes sociais são apelativas para as empresas uma vez que a tecnologia atual reduziu significativamente os custos destes objetivos, aumentado em muito a velocidade de execução (pelo menos segundo análise de fatores tangíveis).

Podemos chamar às redes sociais a interpretação de uma teoria da evolução sobre o padrão competitivo: anteriormente2, a reputação e desempenho de determinada empresa — fatores-chave de vantagem competitiva num ambiente comercial — baseavam-se na interrelação de um plano de atividades bem-sucedido com a capacidade de sustentar tal plano, bem como na reputação da empresa, desenvolvida através da perícia em marketing, investigação e desenvolvimento, não esquecendo a qualidade, fiabilidade ou traços distintivos dos seus produtos ou serviços, tal como os consumidores ou clientes os viam.

As empresas que maior investimento realizassem em marketing e I&D seriam capazes de atrair mais clientes, mais transações e, em resultado, mais capital para reinvestir nessas mesmas vantagens competitivas. Criaram-se, assim, ciclos de vida mais longos no caso dos líderes de indústria3. Contudo, os ciclos de sucesso e liderança nos mercados estão a encurtar!

Com as redes sociais, qualquer empresa pode alcançar um número quase infinito de clientes e compradores potenciais, sem um aumento correspondente nas despesas de marketing. Se uma empresa puder desenvolver um produto que tem procura no mercado atual, é hoje muito mais viável adequar a oferta à procura, e pode-se implementar as necessárias ferramentas de marketing sem suportar os tradicionais custos fixos infraestruturais. Esta possibilidade e facilidade de chegar ao cliente abre uma porta à concorrência efémera.

As empresas não precisam de projetos comerciais sustentáveis ou estratégias integradas: talvez tenham um produto que funciona, e isso pode bastar4! As redes sociais são uma ferramenta comercial e, devido às oportunidades que criam, as empresas devem considerar este novo campo de batalha nas suas atividades de planeamento estratégico!

As empresas criarão mais agitação em torno das suas marcas, produtos e serviços. As empresas conseguirão obter conhecimentos mais aprofundados sobre as tendências e preferências do mercado! E, muitíssimo importante, o impacto das características da empresa junto dos seus clientes potenciais pode agora ser mensurado. Contudo, como tentaremos explicar, considerar a participação nas redes sociais não equivale a uma participação instantânea e irrefletida!


Por André P. Rocha MDS - International Business


1 Fonte: Alexa Global Traffic Rankings http://www.alexa.com/topsites
2 Este "anteriormente” signifi ca aqui um período cronológico muito limitado. Mais do que referir o ambiente concorrencial tradicional em várias indústrias, pretende-se indicar padrões recentes de vantagem competitiva, em que as empresas tiram partido do seu desempenho através de canais optimizados para os clientes (marketing) e onde o desempenho comercial se constrói sobre uma base assente na inovação. 3 A Apple e a Dell podem ser apontadas como exemplos de liderança estável, já que implementaram um plano comercial estrategicamente, podendo construir a reputação de inovação destas fi rmas. Este capital cognitivo das suas marcas benefi ciou vários produtos que, embora não fossem êxitos avassaladores, ajudaram a manter a reputação das empresas como fonte de ideias e produtos inovadores. 4 Um bom exemplo de sucesso neste tipo de concorrência efémera é a Zynga. Tendo desenvolvido o maior êxito entre os jogos disponíveis no Facebook, o Farmville, a empresa ascendeu nas tabelas e captou o interesse de vários investidores, como a Google.

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