Global Risk Perspectives - Monthly insights on geopolitics, trade & climate

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Nuno Rodrigues
21.09.2021

Alterações climáticas encontram resposta nos seguros paramétricos?

2021 está assim a ser marcado por múltiplas catástrofes naturais, reflexo do impacto das alterações climáticas, as quais são atualmente consideradas como uma certeza científica, assumindo uma posição prioritária na agenda das nações e organizações.
Exatamente há 16 anos atrás, o furacão Katrina devastava Nova Orleães gerando níveis de destruição nunca antes vistos e causando aproximadamente 1.800 mortos. Agora, o furacão Ida, a 5º maior tempestade de sempre a chegar a solo norte-americano, volta a causar o caos e destruição, ao atingir Nova Orleães como um furacão de categoria 4 (numa escala cujo máximo é 5) e ventos na ordem dos 250 km/h, provocando danos estimados em cerca de 30 mil milhões de dólares. O furacão Ida "sugou” tamanhas quantidades de água do Golfo do México que o rio Mississípi inverteu a direção do curso de água, passando a fluir da foz para a nascente.
Há apenas algumas semanas, a Europa Central e Oriental foram palco das cheias com o maior impacto económico alguma vez registado em território europeu, com custos estimados superiores a 7 mil milhões de euros e apenas comparáveis às grandes cheias de 2002 e 2013. Contudo, se em 2002 e 2013 o galgamento e o transbordo de rios importantes contribuíram substancialmente para os danos, as cheias de 2021 caracterizaram-se por "ondas” de inundação mais pronunciadas e rápidas, em rios de menor dimensões e afluentes, o que causou substanciais danos estruturais e, infelizmente, um número excecionalmente elevado de mortes. De referir ainda que estas cheias ocorreram em territórios teoricamente preparados e com elevados níveis de resiliência face a eventos climatéricos.
Estamos a assistir a claras demonstrações do aumento da severidade de eventos catastróficos, tais como furacões ou ciclones, mas também ao aumento exponencial de frequência e severidade de riscos considerados secundários, tais como ondas de calor, inundações causadas por chuvas intensas ou incêndios florestais. E serão estes ditos riscos secundários aqueles que, com o agravar do impacto das alterações climáticas em combinação com uma concentração do risco (migração para centros urbanos), causarão maiores impactos nas sociedades e organizações.

De facto, se hoje em dia existe um elevado nível de conhecimentos e dados relativos a eventos catastróficos, permitindo modelizações do risco com elevados níveis de exatidão, o mesmo já não se pode afirmar no que toca aos riscos secundários. E com o crescente impacto, já se começa a assistir à redução de capacidades de subscrição, aumento do custo dos seguros ou mesmo eliminação de coberturas em zonas consideradas de elevada exposição. Paralelamente, o "gap” de proteção continua a aumentar, como se verifica na Alemanha onde cerca de 40% das apólices de património nas áreas afetadas pelas recentes cheias não incluíam a cobertura de Inundações.
Estão assim criadas as condições para que um novo tipo de seguros, criados originalmente na década de 90, saiam finalmente do tubo de ensaio e se massifique, os seguros Paramétricos.



- Seguros Paramétricos - 
Os seguros Paramétricos vêm quebrar alguns dogmas associados aos seguros ditos tradicionais. Como ponto de partida não seguram os danos materiais, mas os eventos em si, climatéricos ou não.
Não existe um capital seguro, mas sim um limite de indemnização, sendo também pré-estabelecido o índex ou parâmetro, que, quando atingido, aciona o seguro e dá lugar a indemnização. Tudo isto sem que exista a necessidade de uma tradicional peritagem de seguros ou da ocorrência de danos materiais. O processamento de indemnizações é assim célere, entre 2 semanas a 2 meses, contribuindo desta forma para uma maior rapidez na recuperação/reconstrução. 
Existem atualmente inúmeros exemplos de aplicabilidade prática deste tipo de seguros associado a alterações climáticas. Desde a queda de granizo e o seu impacto no setor agrícola, automóvel, ou de produção de energia solar; o excesso de precipitação e o impacto de tal no setor agrícola ou de transportes; os incêndios florestais e o respetivo impacto no setor de produção de papel ou madeira; e ainda a seca e o impacto no setor vinícola ou energético, entre outros. 
É cada vez mais comum se referir que um seguro Paramétrico poderá providenciar cobertura para toda e qualquer situação que origine uma perda económica, desde que a mesma possa ser diretamente correlacionada a um ou mais parâmetros facilmente observáveis.



Por Nuno Rodrigues, Diretor de Riscos Patrimoniais e Engenharias da MDS Portugal
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