Global Risk Perspectives - Monthly insights on geopolitics, trade & climate

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Ana Mota
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28.10.2021

Futuro da Saúde: Homem vs Máquina?

A pandemia acelerou de forma exponencial o acesso à saúde por meios digitais: desde vídeo-consultas, telemedicina, incluindo alguns exames de diagnóstico online por "leitura” de sinais biométricos. Os seguros apostaram na medicina online como forma de apoiar os seus clientes durante a pandemia, mas no futuro, será este o único caminho? 

Sem dúvida que o uso destes meios foi fundamental para colmatar e minimizar as enormes restrições no acesso a clínicas e hospitais, impostas pela prioridade de focar todos os meios, humanos e físicos, no combate ao vírus SARS-CoV-2. É hoje incontestável que a Medicina online veio para ficar e será cada vez mais indispensável pelas vantagens que nos proporciona: maior comodidade, facilidade de acesso, flexibilidade de horários; sem tempos de deslocação e de espera ou exposição a outros pacientes, evitando assim contágios indesejados e ainda, em muitas das situações, menor custo por utilização. 

O setor segurador foi um dos principais impulsionadores do acesso à medicina virtual, permitindo dar respostas céleres às questões mais urgentes, nomeadamente, no despiste de situações relacionadas com a Covid-19 e a muitas outras questões que não justificando e até se desaconselhando uma ida a serviços de urgências, foram resolvidas através de teleconsultas. Entre as principais utilizações destacam-se as assistências pediátricas e as consultas de psicologia. Estas últimas de extrema importância pelas crises de ansiedade que muitos sentiram, agravadas pela situação pandémica que se vivia e sobretudo pela incerteza (que ainda hoje não está totalmente ultrapassada) do que este vírus nos podia trazer.  Estima-se que o recurso á telemedicina mais do que duplicou durante a pandemia, quer na frequência de quem já utilizava, mas sobretudo com novos utilizadores. 

Contudo, há que ser realista e assumir que o virtual veio melhorar o acesso dos pacientes aos serviços de saúde, mas não poderá nunca substituir em absoluto o presencial. Por muitas razões, mas acima de tudo pela falta de contacto humano. 
 
Por muito desenvolvidos que sejam os meios tecnológicos: permitindo ler dados para diagnóstico – pressão arterial, barómetro cardíaco, temperatura, diabetes, etc, ainda estamos longe de poder fazer todos os exames por via digital, até porque alguns carecem mesmo de contacto físico - exemplo de exames abdominais que implicam palpação ou exames ginecológicos. Outra área onde é difícil substituir o profissional físico é por exemplo a fisioterapia. Embora já exista a possibilidade, com recurso a determinados equipamentos, de realizar sessões conduzidas à distância por um fisioterapeuta, pergunto: é garantidamente eficaz? A verdade é que a manipulação dos músculos, incluindo as massagens terapêuticas dificilmente podem ser feitas por máquinas. 

Na verdade, para além das restrições, que ainda existem e que não se prevê superáveis no curto prazo, o mais difícil mesmo de ultrapassar são as limitações emocionais. Atrás de uma câmara facilmente tudo se torna mais impessoal fica a faltar a proximidade física tão essencial para dar conforto e bem-estar aos doentes, para "captar” os seus sentimentos e reagir a esses sinais  

E à medida que as tecnologias avançam e aperfeiçoam a robótica, até que ponto queremos ser avaliados, tratados e, até no limite, aconselhados por máquinas ou mesmo robots?   

No diagnóstico e tratamento de doenças físicas a interação homem-máquina não será provavelmente um problema mas, antes pelo contrário, um facilitador. Em minha opinião outra grande questão prende-se com a área da saúde mental. Se para um mero apoio psicológico uma teleconsulta possa ser uma forma eficaz de prestar auxílio, e que funciona de forma pontual e esporádica; para um tratamento mais profundo numa área onde o psíquico domina, a proximidade física de um profissional será indispensável - quer a nível de sessões de psicoterapia, quer mesmo nas situações mais graves que implicam internamento. Pois, onde fica o conforto de um abraço? 

Os profissionais de saúde continuarão a reforçar a sua atuação através do recurso à tecnologia, mas sem nunca descurar o papel crucial desempenhado pela empatia, compaixão, experiência e capacidade de decisão. A verdade é que, apesar da crescente utilização e aposta na tecnologia em prol de uma melhoria na prestação de cuidados de saúde, muitos ainda receiam a substituição dos seres humanos por máquinas.  

A adoção de novas tecnologias acarreta sempre grandes desafios. Para mim o maior desses desafios será como potenciar os benefícios da saúde digital sem perder o toque humano.  

 

Por Ana Mota, Diretora de Saúde, Vida e Previdência da MDS Portugal
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