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Envelhecimento: desafio ou ameaça para os seguros de saúde?

O envelhecimento da população é, sem dúvida, uma das tendências com maior impacto no mundo ocidental, tanto em termos demográficos como sócio-económicos. Portugal e Espanha, em particular, estão hoje a ser afetados por um crescente envelhecimento das suas populações, aproximando-se, segundo recentes estudos, dos níveis do Japão, que atualmente tem a população mais velha do mundo industrializado.Por Josef Brem, MUNICH RE

Envelhecimento: desafio ou ameaça para os seguros de saúde?

OJapão tem hoje a população mais velha do mundo industrializado, prevendo-seque uma em cada 4 pessoas atinja os 100 anos durante as duas próximas décadas.

Alémdisso, há uma série de questões que devem ser avaliadas de forma mais detalhadapara entender melhor as causas e implicações deste, quer para o setor quer paraos segurados. Em primeiro lugar, vivemos mais porquea nossa saúde melhorou drasticamente ou porque somos mais saudáveis hoje emdia? Sem dúvida, ambos os fatores têm contribuído paraessa tendência.


Por um lado, a sociedade está mais consciente em relação aobem-estar e à saúde. Pelo outro lado, há um aumento do número de pessoas comdoenças, principalmente doenças crónicas, que são tratadas quer nos sistemas desaúde públicos quer nos privados.

Aplicando uma analogia simples, esses efeitospositivos podem ser comparados com aqueles associados com uma melhor manutençãotécnica das máquinas: mais investimento em manutenção, maior será a vida útilda máquina (o nosso  corpo). Em suma, vamosviver mais tempo graças ao cuidado e manutenção do nosso corpo.

Nessecontexto, não podemos esquecer que enfrentamos um ambiente mais complexo e emconstante mudança: os tratamentos médicos, técnicos efarmacológicos avançam muito rapidamente, contribuindo para o aumento daesperança de vida.

Porsua vez, esse desenvolvimento implica custos mais elevados para os prestadoresde serviços de saúde. O impacto da crescente inflação médica écada vez mais significativo, gerando ainda mais incerteza para o setor e preocupaçãoquanto à sustentabilidade do modelo atual.

Atransformação tecnológica está também a mudar o paradigma da relaçãotradicional com o segurado. A E-Health (ou Digital Health) abrange uma amplagama de novos conceitos e ferramentas que redefinirão o relacionamento com osegurado / paciente e provavelmente o modelo de negócios.

A decisão sobre quaisos desenvolvimentos relevantes, especialmente para o segmento mais velhoda pirâmide populacional, é um dos maiores desafios do setor e, como tal,envolve riscos significativos de investimento. Assim não seria melhor enfrentaro futuro de forma mais disruptiva do que esperar e simplesmente reagir?

Acreditoque a resposta que o nosso setor está a dar ao tema do envelhecimento ainda émuito defensiva: esperar e adaptar-se muito gradualmente às mudanças paraevitar exposições futuras, ainda pouco conhecidas. O aumento da idade dosegurado tem um impacto significativo no custo do prémio.

Como consequência, ossegurados procuram coberturas mais económicas, mas também mais limitadascriando uma assimetria entre a proposta de valor do setor e as necessidades ou expectativasdesse grupo populacional.

Asnossas soluções não são totalmente satisfatórias para os nossos segurados idosos.Deveríamos focar-nos na alteração de algumas das nossas práticas de negóciohabituais, particularmente para este segmento.

Os nossos segurados estão maisindependentes nas suas escolhas, mais informados e, sobretudo, mais conscientesrelativamente à sua saúde. Segurados, e pacientes, querem ter acesso - atravésdas novas tecnologias – à informação de contacto dos médicos e que os apoiemosa cuidar da sua própria saúde, satisfazendo as necessidadesespecíficas da sua idade.

Outrofator importante é a prevenção. Ao nível da Saúde Pública, calcula-se umpotencial de poupança de 25€ por cada euro investido (BLAY, Dr. Carles, no XEncontro dos Líderes de Seguros, Barcelona: ESADE / UVIC School of Medicine, 2Outubro de 2018). O elemento-chave neste caso é o acompanhamento médicopermanente do paciente idoso, pelo que seria aconselhávelreforçar a figura do médico de clínica geral como "gestor médico”.

Umelemento muitas vezes esquecido na nossa abordagem clássica dosseguradosseniores é a integração dos aspetos sociais e de saúde. Tende-se a subestimar opeso do bem-estar emocional do paciente e a concentrar-se maisno tratamento de um problema físico.

Ou seja, concentramo-nos no tratamento docolesterol alto do paciente, mas não olhamos para o seu ambiente e contextosocial, a solidão que enfrenta, a necessidade de ajuda em casa, etc. Em suma, éa "saúde emocional” que desempenha um papel crucial em cada pessoa, e aindamais numa pessoa mais velha.

Transformaro médico tradicional num verdadeiro "gestor médico” iria ajudar achegar mais perto da realidade de cada paciente / segurado, e encontrar ângulosque não só mitiguem uma necessidade física pontual, mas também ajudem a abrir ocaminho para o bem-estar e a prevenção. As ferramentas e tecnologiasnecessárias estão disponíveis, é fundamentalmente uma questão de foco.

Alémdisso, os prestadores públicos e privados devem trabalhar em estreitacolaboração. O fenómeno do envelhecimento é um desafio para a saúde pública,para o setor privado para a sociedade. É essencial uma maiorcolaboração, particularmente tendo em conta que o setor privado vai ser chamadoa providenciar cada vez mais coberturas e serviços após a idadeda reforma.

Aatual tendência de envelhecimento em Portugal e Espanha é incontrolável.

Aindaque apresente desafios significativos ao conceito tradicional do seguro desaúde, os avanços da medicina, a evolução tecnológica e um maior enfoque naprevenção e bem-estar vão criar novas oportunidades.

Alémdisso, uma parte significativa do segmento sénior detém um poder de compraconsiderável, o que deve motivar todos os intervenientes do  setor segurador a adaptar a oferta às suasnecessidades.

Revera política atual de oferta, incluindo novos serviços (por exemplo em regime de franchising), com foco em cuidados de saúdeemocional e de bem-estar ou reforçando o conceito de "gestor médico” poderãoser elementos a considerar na reconfiguração da proposta de valor para estesegmento. Certamente contribuirão para melhora a nossa relação com a populaçãoidosa, tornando-amenos transacional e mais próxima. •

 


Josef Brem

JosefBrem é formado em Literatura Inglesa e Ciências Empresariais pela Universidadede Regensburg na Alemanha.
Trabalhana Munich Re há 33 anos, quer em Londres quer em Madrid. Começou comosubscritor de sinistros para mercado de Londres, passando a liderar odepartamento em Madrid por mais de 12 anos.
Durante7 anos, esteve à frente da Unidade de Gestão de Capitais em Madrid e, nosúltimos 6 anos, tem sido Diretor do Centre of Competence Health for Health emEspanha, Portugal e América Latina, em Madrid.

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