Fullcover

Insurance Development Forum

Colmatando o gap de proteção

Insurance Development Forum
Na Cimeira de junho de 2015, em Schloss Elmau, na Alemanha, os líderes do G7 comprometeram‑se no sentido de aumentar o número de pessoas com seguro contra o impacto negativo das alterações climáticas nos países em desenvolvimento. Com a designação de "objetivo InsuResilience do G7”, estabeleceram a meta de "segurar mais 400 milhões de pessoas de países em desenvolvimento contra os efeitos das alterações climáticas e de catástrofes naturais relacionadas, até 2020.”

Para o conseguir, o G7 comprometeu‑se a intensificar esforços no sentido de ajudar os países vulneráveis a gerirem o risco de catástrofes relacionadas com as alterações climáticas e a consolidarem a respetiva resiliência. Protocolos como o Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Catástrofes 2015–2030, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 e o Acordo de Paris alcançado na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas (COP21) já se encontram em vigor e fazem parte da Agenda Pós 2015 – um processo liderado pela ONU que visa identificar prioridades de desenvolvimento globais e nacionais. 

Os líderes do G7 reconhecem, porém, que é necessário aprender com os instrumentos de assunção de risco existentes, bem como alargar‑lhes o alcance. São exemplo de tais instrumentos a African Risk Capacity, o Caribbean Catastrophe Risk Insurance Facility e outras iniciativas de desenvolvimento de soluções e de mercados de seguros em regiões vulneráveis.

O desejo do G7 de otimizar a colaboração no setor segurador e o lema "pensar em conjunto, agir em conjunto” levou vários especialistas em seguros e resseguros globais, incluindo o Vice-presidente Executivo do Grupo XL, Stephen Catlin, a criar o IDF – Insurance Development Forum (Fórum de Desenvolvimento de Seguros).


O Forum
O IDF é uma parceria entre os líderes das Nações Unidas (ONU), o Grupo do Banco Mundial e o setor segurador (que assume a liderança). Este fórum foi desenvolvido com o apoio do Grupo Político de Elite para a Resiliência contra as Catástrofes apoiado pelas Nações Unidas, anunciado pela primeira vez na Cimeira COP21 em dezembro de 2015 e lançado oficialmente numa reunião de alto nível da ONU em abril de 2016.

Entre os membros deste grupo contam‑se os CEOs e os presidentes do conselho de administração de 14 companhias de seguros globais. As organizações intergovernamentais estão representadas pelo Conselho de Estabilidade Financeira, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pelo Grupo do Banco Mundial. Entre as entidades ligadas ao setor segurador global contam‑se a Sociedade Internacional de Seguros (IIS – International Insurance Society), a Associação de Genebra, a Federação Internacional de Seguros Cooperativos e Mutualistas e a Associação de Seguradores e Resseguradores das Bermudas. 

O IDF é liderado por uma comissão diretiva de topo, composta por líderes do setor, agências da ONU e pelo Banco Mundial, que estabelecem prioridades e mobilizam recursos. O presidente é Stephen Catlin (que será também o próximo presidente da Sociedade Internacional de Seguros) e os copresidentes são Helen Clark, administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Joaquim Levy, diretor‑geral e diretor financeiro do Grupo Banco Mundial. 

Além dos representantes do setor segurador, a lista de membros inclui também Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra e presidente do Conselho de Estabilidade Financeira; o Dr. Robert Glasser, representante especial do secretário-geral para a Redução do Risco de Catástrofe e diretor do Gabinete das Nações Unidas para a Redução dos Riscos de Catástrofes (UNISDR); David Nabarro, assessor especial do Secretário-geral da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e membro das Nações Unidas; e Stephen O’Brien, vice secretário-geral e coordenador dos Serviços de Emergência da ONU e chefe de Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).


Colmatando o gap de proteção

De acordo com um estudo publicado pelo Mecanismo Global para a Redução e Recuperação de Catástrofes, o custo das catástrofes naturais subiu mil por cento desde meados dos anos 80 do século XX.

Os seguradores globais estimam que, na última década, as economias perderam, em média, 190 mil milhões de dólares americanos por ano na sequência de catástrofes naturais, ao passo que as perdas seguradas totalizaram, em média, 60 mil milhões por ano.

Um relatório da Swiss Re indica que 70% das perdas económicas decorrentes de riscos naturais continuam a não estar abrangidas por seguros e, em países de rendimentos médios ou baixos, este valor é, em muitos casos, superior a 90%.

A empresa indica ainda que, em 2014, a penetração do seguro de Vida e Não‑Vida – uma medida que considera os prémios na proporção do PIB – foi de 13% na África do Sul, de 3% no Quénia e de 0,3% na Nigéria. O relatório de 2015 do Insurance Europe indica que a penetração do seguro de Vida/Não‑Vida na Europa era de 7,46%.

O Lloyd’s levou a cabo um estudo cujo resultado indica que um aumento de 1% na penetração do seguro pode reduzir em 22% os encargos dos contribuintes com a recuperação de catástrofes, mostrando por que razão os países com coberturas de seguro recuperam mais rapidamente de catástrofes.

Assim, não surpreende verificar que a principal prioridade do IDF é colmatar a crescente disparidade de proteção existente entre as nações de rendimentos altos e as nações de rendimentos baixos, e usar os seguros e a gestão de risco para aumentar a capacidade de resiliência e de proteção das pessoas, comunidades, empresas e instituições públicas vulneráveis ao clima, às catástrofes, a riscos mais amplos e a choques económicos.

No passado, um conjunto de agentes privados/públicos envidou esforços no sentido de melhorar a resiliência global e combater as disparidades em termos de proteção e, embora os seguradores tenham instado os governos a "desenvolver ações globais no sentido de aumentar a capacidade de resiliência a catástrofes naturais”, a criação do IDF assegura maior coordenação e colaboração entre os players com a experiência e o conhecimento necessários para tratar este tema complexo de forma mais alargada.

A criação do IDF responde também a apelos do anterior secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, para que seguradores e resseguradores façam um maior esforço no sentido de ajudarem a contrariar a ameaça que as catástrofes climáticas representam.


Maior experiencia

Na Conferência sobre Redução de Risco de Sendai os delegados foram alertados para o facto de que os seguradores e resseguradores têm mais informação coletiva e mais experiência em termos gerais na identificação, avaliação e gestão de risco do que qualquer outra organização mundial, incluindo a maioria dos governos. Dadas as enormes disparidades entre quem tem e quem não tem proteção, é claro o motivo pelo qual o IDF é tão necessário.

Stephen Catlin vinculou precisamente este facto num discurso cheio de entusiamos dirigido aos delegados em novembro de 2016 no Fórum de Desenvolvimento Financeiro de Frankfurt, na Alemanha: "O conhecimento e a experiência do setor segurador na subscrição e gestão de riscos colocam-nos numa posição forte que nos permite ajudar a construir a resiliência hoje tão necessária; por outro lado, o papel central que a gestão de risco desempenha nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, e noutros quadros globais, constitui, para nós, um grande incentivo”.

Numa entrevista ao Financial Times em junho de 2016, Stephen Catlin observava: "Durante muitos anos, o setor segurador teve dificuldade em descrever, de forma clara, a proposta de valor do seguro, mas agora as Nações Unidas e outras agências estão a começar a compreender como podemos ajudá‑las”.

Áreas de foco:

O desafio de resiliência global
Os riscos económicos e humanitários associados a catástrofes climáticas e a perigos relacionados com o clima estão a aumentar, o que representa um grande desafio à resiliência global, sobretudo nos países de rendimentos médios ou baixos. Este desafio foi sublinhado pela recente adoção dos acordos globais (Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Catástrofes 2015‑2030, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 e Acordo de Paris do COP21) que constituem a Agenda 2030 das Nações Unidas.

Os gaps de proteção
Diminuir os gaps de proteção, desenvolver a resiliência global e proteger as economias.

O papel dos seguros
É cada vez mais evidente que os países com maior taxa de penetração em termos de seguros recuperam das catástrofes mais rapidamente do ponto de vista económico e se conseguem reconstruir com maior resiliência para enfrentarem catástrofes no futuro. Um objetivo‑chave da Agenda 2030 da ONU é adotar uma abordagem baseada no risco para gerir os riscos de eventos extremos e climáticos. Dentro deste quadro, o seguro é claramente reconhecido como um veículo‑chave que permite a partilha de risco e soluções de transferência de risco necessárias para uma maior resiliência global.

Necessidade de maior coordenação e colaboração
Dada a dimensão, a abrangência e a complexidade do desafio que é desenvolver resiliência e combater as disparidades de proteção, uma abordagem coordenada e colaborativa que agregue o setor segurador e os outros stakeholders relevantes é essencial para atingir os objetivos da Agenda 2030 da ONU.


Prioridades e metas:

Inicialmente o IDF irá focar‑se no desenvolvimento de resiliência aos riscos decorrentes do clima e dos fenómenos naturais, em linha com a meta InsuResilience do G7 de alargar a cobertura de seguro de risco climático a mais 400 milhões de pessoas de países vulneráveis até 2020. Para alcançar esta meta, o IDF irá coordenar e implementar instrumentos de gestão de risco ligados a seguros nas duas seguintes iniciativas de trabalho prioritárias:

Facility de Assistência Técnica (FAT)
A FAT irá desenvolver uma plataforma para ajudar os governos a avaliar e compreender os riscos que enfrentam, e a desenvolver e usar soluções integradas de seguro eficazes e adaptadas às suas necessidades específicas. O MAT funcionará como um mecanismo central de integração de todas as atividades relevantes do IDF, com o objetivo de ajudar os governos a alargar a cobertura de seguro a 300 milhões das pessoas mais vulneráveis do mundo.

Microsseguro
A iniciativa de Microsseguro irá trabalhar em conjunto com parceiros do setor privado, mutualista, governamental e da sociedade civil, de forma a alargar soluções de seguro "no terreno” para um número adicional de 100 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. Numa fase inicial, o IDF irá contribuir para alcançar a meta InsuResilience do G7, mas espera‑se que a sua abrangência aumente ao longo do tempo de forma a incluir outras prioridades relacionadas com seguros da Agenda 2030 da ONU.

Estrutura do IDF
A estrutura de governação do IDF foi concebida para assegurar a eficiência de comunicação, coordenação e colaboração entre todas as partes. O IDF é liderado por uma Comissão Diretiva e apoiado por um Grupo de Implementação.

Comissão Diretiva – líderes do setor, líderes das agências da ONU, instituições internacionais e outros – o enfoque desta comissão é estabelecer prioridades e mobilizar recursos.
Grupo de Implementação – reporta à Comissão Diretiva e é responsável pela recomendação de procedimentos de resposta, pela supervisão dos grupos de trabalho do IDF e por incentivar o foco na prossecução das metas e dos objetivos acordados. Presidido por Rowan Douglas, Willis Towers Watson e copresidido por Quentin Coolen, PNUD; e por Samuel Munzele Maimbo, Grupo Banco Mundial.

Descubra o mundo MDS