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Novos riscos num mundo em mudança

Proteger o crescimento económico global

Novos riscos num mundo em mudança
O mundo está a mudar a um ritmo nunca visto. Empresas e seguradoras enfrentam enormes desafios num momento em que os principais motores da mudança – a globalização, a digitalização e a urbanização – estão a alterar de forma muito rápida a natureza do risco global e a obrigar o setor a questionar os modelos de negócio existentes.

Olhando para o panorama macroeconómico, o equilíbrio de poder na economia global está a mudar. A McKinsey estima que, entre o momento atual e 2025, 440 cidades de países em desenvolvimento irão gerar quase metade do crescimento do PIB mundial, e que quase metade das novas empresas de grande dimensão – com mais de mil milhões de libras esterlinas em receitas – terão a sua sede nos países em desenvolvimento.

Em 2025, em São Paulo o número dessas empresas será três vezes superior ao de hoje, sendo provável que Pequim e Istambul dupliquem o número de empresas com sede local. À medida que estas economias emergentes começam a aperceber‑se do verdadeiro potencial económico que têm, o seu crescimento é cada vez mais ameaçado por riscos naturais e humanos e, claro, por problemas económicos e geopolíticos significativos. E estes riscos são agravados no caso de baixa penetração dos seguros.


As cidades como motores económicos

Outra tendência importante é a da urbanização. As cidades tornaram‑se os principais motores de crescimento, contando com uma crescente concentração do trabalho, do capital económico e das infraestruturas físicas. E a contribuição das cidades para a produção económica dos países também está a aumentar. Por exemplo, a percentagem da contribuição de Londres para a produção do Reino Unido subiu de 15% nos anos de 1960 para os atuais 45%.

Uma vez que as cidades estão a destacar‑se enquanto plataformas internacionais de criação global de riqueza e atividade comercial, qualquer impacto na sua economia tem um impacto direto no crescimento económico do país. Este é um fator que está a fazer com que as cidades se tornem mais vulneráveis a choques catastróficos.


A revolução digital

As novas tecnologias estão a provocar uma rutura com os modelos de negócio tradicionais. Desde a invenção dos computadores e da Internet em meados dos anos de 1970 que o mundo tem passado por um processo de transição significativa do físico para o digital, alimentada por aquilo a que já se chamou a Revolução Digital ou a Quarta Revolução Industrial.

Esta explosão no uso das tecnologias digitais conduziu‑nos a uma era de conetividade sem precedentes. Estima‑se que em apenas 15 anos haja 500 mil milhões de dispositivos conectados, que criarão uma enorme «Internet das Coisas» («Internet of Things» em inglês), e esta conetividade digital crescente está a impulsionar uma explosão de dados. De acordo com a IBM, o mundo cria todos os dias 2,5 triliões de bytes de dados – um valor tão elevado que 90% dos dados mundiais foram criados nos últimos dois anos.

A International Data Corporation (IDC) estima que o total de dados criados é duplicado a cada dois anos a partir de uma imensidão de fontes: sensores inteligentes, sistemas de GPS, transações financeiras, utilização da Internet, dispositivos conectados e, claro, redes sociais.

Na esfera empresarial, a tendência global vai no sentido da crescente transição de ativos e infraestruturas do físico para o intangível.

A natureza desta mudança é impressionante quando olhamos para as empresas que compõem o índice S&P500 do mercado de valores e as dividirmos entre as que têm um objeto tangível e as que têm um objeto intangível. Em 1975, a proporção era de 83% tangível e 17% intangível. No ano passado, verificámos que apenas 16% das empesas que compõem o índice S&P500 do mercado de valores têm um objeto tangível, tendo 84% um objeto intangível.


O que está em jogo?

À medida que o mundo se torna mais interligado e as empresas negoceiam à escala global, a exposição a que estão submetidas em termos económicos está também a aumentar e os choques sistémicos podem ter uma multiplicidade de consequências – um exemplo seria o das inundações na Tailândia que provocaram graves perdas de exploração por interrupção da atividade em empresas do Japão.

O Lloyd’s City Risk Index 2015–2025 analisou pela primeira vez o potencial impacto económico de 18 ameaças em 301 das mais importantes cidades do mundo. O Lloyd’s trabalhou em conjunto com a Universidade de Cambridge para analisar o efeito sobre o PIB das cidades quer de ameaças humanas, como os ataques cibernéticos, o choque decorrente dos elevados preços do petróleo, o terrorismo e as pandemias, quer das catástrofes mais tradicionais, de origem natural, como os terramotos, os furacões e as inundações.

O estudo mostra pela primeira vez o verdadeiro custo económico destas ameaças e a exposição global massiva aos riscos: 4,6 biliões de dólares do PIB global previsto poderão estar em risco. À escala mundial, todas as ameaças humanas consideradas no estudo estão, em conjunto, associadas a quase metade do total de PIB em risco.

Apesar de os riscos humanos constituírem uma preocupação crescente, as ameaças emergentes estão também a ter um impacto cada vez maior. Os ataques cibernéticos, as pandemias humanas, as epidemias vegetais e as tempestades solares representam cerca de um quarto do total do PIB em risco no mundo inteiro.

Estes resultados mostram a necessidade de desenvolvimento de produtos inovadores no setor segurador para garantir proteção contra riscos causados pelo ser humano.


Criar resiliência

A criação de resiliência começa muito tempo antes de uma catástrofe. Na atual economia global cada vez mais interligada, temos de prestar mais atenção aos riscos que ameaçam os nossos motores económicos. É necessário desenvolver um entendimento profundo do impacto de eventos de grande severidade com vista a criar soluções de transferência do risco adequadas para perigos crescentes, como os ataques cibernéticos e o terrorismo.

Os seguros têm um papel fundamental a desempenhar para ajudar a mitigar o elevado custo destes riscos quando eles efetivamente ocorrerem. A investigação do Lloyd’s mostra que um aumento de 1% na penetração dos seguros significa uma redução de 13% em perdas não seguradas e uma redução de 22% no valor pago pelos contribuintes depois de uma catástrofe.

O pagamento das indemnizações dos seguros é uma fonte fundamental de injeção de capital depois de uma catástrofe e contribui para a recuperação e redução dos custos económicos por parte dos governos, das empresas e das comunidades.

Mas os seguros são só uma peça do puzzle. Metade do total do PIB em risco pode ser protegido melhorando todos os aspetos das infraestruturas das cidades e da gestão de crises, sublinhando‑se o papel essencial dos governos e das empresas.

Nenhum município ou segurador pode agir isoladamente. A resiliência é a responsabilidade coletiva de todos os setores da sociedade, e temos de trabalhar em conjunto para fazer face às gravíssimas ameaças que as nossas cidades enfrentam.


Por Vincent Vandendael, Chief Commercial Officer no Lloyd’s


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