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Reduzir os riscos decorrentes das alterações demográficas

A gestão do risco demográfico será crucial para o futuro de todos os países

Reduzir os riscos decorrentes das alterações demográficas
Estamos a entrar num período em que o sistema ocidental de segurança social do pós‑guerra se encontra crescentemente ameaçado, à medida que a pirâmide demográfica global se inverte. E não são apenas os países do Ocidente. Também a China e outras potências de rendimento médio irão debater‑se, durante a próxima década, com uma população ativa envelhecida e com custos insustentáveis com saúde e pensões.

Os países da África subsariana continuam a apresentar taxas de natalidade altas, e o excesso de população acarreta custos elevados não só para estes países, mas também para o resto do mundo, cuja mão-de-obra será constituída, cada vez mais, por trabalhadores oriundos daquela região.

É evidente que a gestão do risco demográfico será crucial para o futuro de todos os países. Não fazer as escolhas certas agora poderá diminuir o potencial económico durante décadas. 


Riscos aumentam nas economias de rendimento elevado

Até que ponto estão as economias de rendimento elevado preparadas para o aumento dos custos das pensões? Nos cinquenta anos que decorreram entre 1960 e 2010, a despesa pública com pensões em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) duplicou de quatro para oito por cento nos países de rendimento elevado. Estima se que, em 2035, a percentagem do PIB alocada a despesa pública com pensões cresça três por cento, num contexto de diminuição da população ativa.

A subida dos custos com pensões ocorre num momento em que a esperança de vida aumenta muito rapidamente. Desde 1990, a longevidade aumentou, em média, mais de 2,5 anos por década. Por sua vez, a idade da reforma em todos os países de rendimento elevado aumentou, em média, 1,8 anos por década. A esperança de vida em alguns países de elevado rendimento aumentou a um ritmo ainda mais elevado.

A história da despesa com a saúde é semelhante. Uma proporção crescente de pessoas com 80 ou mais anos – uma consequência do aumento da esperança de vida – necessitará de cuidados de saúde mais alargados e dispendiosos, como sejam os cuidados domiciliários e de longa duração.

O aumento dos custos com os cuidados de saúde irá absorver as poupanças dos pensionistas e caberá aos governos o ónus de suportar uma parte mais significativa destes custos. Mas os governos estarão cada vez mais de "mãos atadas”: estima se que menos de metade dos custos necessários com cuidados de saúde será suportada pelos Estados, o que corresponde a uma descida dos custos dos 62 por cento verificados em 2015, para 49 por cento, em 2035.
 
Com uma pressão cada vez maior para aumentar a despesa com pensões e cuidados de saúde, os países, sobretudo os de rendimento elevado, encontram se perante um dilema: cortar nas despesas de educação, de investigação e desenvolvimento (I&D) e nas infraestruturas pode conduzir a uma redução da produtividade necessária para compensar a diminuição da população ativa.

Sendo o crescimento com base na força laboral uma realidade cada vez mais do passado, os países de rendimento elevado terão de aumentar a produtividade para compensar a diminuição da população ativa ou para enfrentar o abrandamento do crescimento económico.
 
A emergência das tecnologias que substituem o trabalho – robótica, a crescente automação e inteligência artificial cada vez mais sofisticada – poderá ajudar a contrabalançar a diminuição da população ativa. Mas os avanços tecnológicos do passado conduziram também a novas necessidades de mão-de-obra. Haverá trabalhadores qualificados suficientes para os setores de alta tecnologia se os custos com os cuidados de saúde e as pensões dominarem os orçamentos de estado, diminuindo as receitas disponíveis para educação e Investigação e Desenvolvimento? 


Contração será mais tardia nos países de rendimento médio e baixo 
A maioria dos países de rendimento médio tem uma população ativa em maior número e também mais jovem, o que coloca estes países numa posição mais vantajosa na preparação para o inevitável processo de envelhecimento. Os países com menos dependentes têm maior potencial de poupança e maior capacidade de crescimento.

No entanto, os países de rendimento médio enfrentarão brevemente as mesmas exigências para um aumento da despesa pública com cuidados de saúde que os países de elevado rendimento. A percentagem de despesa com cuidados de saúde nos países de rendimento médio alto diminuirá lentamente devido à incapacidade dos governos acompanharem as necessidades.

Os países de rendimento médio alto enfrentarão, igualmente, pressões para o aumento da despesa associada às pensões públicas. A necessidade de despesa com pensões aumentará quase cinco pontos percentuais, em percentagem do PIB, até 2035.
 
A maioria dos países de rendimento baixo tem o problema inverso. Em vez de envelhecidas, as populações destes países são jovens. Quanto mais cedo conseguirem baixar as taxas de natalidade, mais cedo poderão aproveitar os anos de «bónus demográfico» durante os quais terão a oportunidade de potenciar o crescimento.

Enquanto a fertilidade se mantiver elevada os custos com os cuidados de saúde não irão baixar. Cerca de 48% da população do Afeganistão tem menos de 15 anos e estima se que os cuidados infantis representem mais de 40 por cento dos custos do país em cuidados de saúde.
 
Quanto mais recursos puderem ser destinados à educação, mais os países de rendimento baixo poderão maximizar os anos de «bónus demográfico» que se avizinham. Ainda assim, os países de baixo rendimento terão muitas dificuldades em igualar os países de rendimento elevado e médio no que respeita aos recursos a dedicar às necessidades educativas da sua numerosa população jovem.

Dado que se estima que, em 2050, a África fornecerá ao mundo um quarto dos trabalhadores, uma mão-de-obra africana com formação insuficiente terá implicações negativas para o potencial de crescimento mundial a longo prazo. Níveis elevados de jovens desempregados conduzem a conflitos civis. Cem por cento dos países assinalados com a indicação Alerta Muito Alto ou Alerta Alto no Índice de Estados Frágeis compilado pela Foreign Policy e pelo The Fund for Peace têm estruturas etárias muito jovens.


Um sentido de urgência necessário para todos 
As medidas políticas e económicas podem fazer a diferença entre acabarmos todos mais pobres e com maior instabilidade ou conseguirmos desfrutar em pleno dos benefícios de uma longevidade crescente.
 
• Com o processo de envelhecimento em pleno curso, os países de rendimento elevado enfrentam a tarefa especialmente difícil de aumentar a idade de reforma, implementar medidas de eficiência no sistema de saúde e reformar os sistemas de pensões para evitar o abrandamento da economia.

• Os países de rendimento médio têm mais tempo, mas a aceleração do processo de envelhecimento implica uma reação rápida no sentido da adequação dos planos de pensões à longevidade crescente e da construção de sistemas de saúde eficientes. Estes países têm uma grande oportunidade para reduzir as disparidades educativas relativamente aos países de rendimento elevado, bem como para impulsionar os seus níveis de produtividade e de atração de investimento estrangeiro.
 
• A migração para sociedades com uma população ativa em declínio pode atenuar a pressão relativa ao crescimento económico e financeiro associada ao referido declínio, mas poderá também criar muitos problemas sociais, sobretudo quando as diferenças culturais e socioeconómicas com a população de acolhimento são grandes. Os países terão de considerar atentamente estas questões e tomar decisões que tenham em conta o longo prazo, e não apenas os impactos imediatos da migração.
 
• Os países de rendimento baixo têm de reduzir rapidamente a fertilidade e de aumentar os padrões educativos, de modo a maximizar as vantagens que terão durante os anos de «bónus demográfico».

As empresas desempenham um papel fundamental na gestão de planos de pensões que tenham em conta os aumentos prováveis de longevidade.

Uma vez que o aumento da idade de reforma enfrenta uma forte oposição política, as empresas podem incentivar os trabalhadores a manterem se ativos durante mais tempo com esquemas de trabalho presencial mais flexíveis.

É provável que os aumentos de financiamento do Estado para a educação nas economias de rendimento elevado sejam limitados, caso existam, pelo que as empresas deverão preparar se para oferecer mais formação contínua a trabalhadores recém chegados e requalificação a trabalhadores mais velhos. Em contraste, em países de rendimento médio alto, as empresas têm a oportunidade de recrutar mão-de-obra cada vez mais bem preparada.

A demografia não terá de ser algo "fatídico” se agirmos agora no sentido de assegurarmos que a promessa de uma vida mais longa e mais saudável não se transforma num custo objetivo para a sociedade, colocando um peso adicional nas gerações futuras. 


Por Zurich Insurance Group



Fonte: "Reduzir os riscos decorrentes das mudanças demográficas”, do Zurich Insurance Group e Atlantic Council. O Zurich Insurance Group e o Atlantic Council estão empenhados em liderar o esforço plurianual de reflexão no sentido de quantificarem os riscos globais agregados. Usamos um modelo quantitativo abrangente promovido pelo Centro Pardee para Futuros Internacionais da Universidade de Denver com vista a explorar os benefícios e os custos económicos dos riscos demográficos.
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