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Veículos sem condutor

Qual o futuro do negócio de seguro automóvel?

Veículos sem condutor
Vistos como algo saído diretamente da ficção científica no início do século, os veículos sem condutor vão ocupar um lugar importante na sociedade num futuro próximo: de acordo com o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrónicos (IEEE), até 2040 70% dos veículos serão autónomos.

Na verdade, esta tecnologia representa uma das maiores preocupações da atualidade no que respeita ao futuro do sistema de seguros de Danos e Responsabilidades.

Esta nova tecnologia, sustentada na inteligência artificial e na robótica, permite a condução de veículos sem a intervenção humana. A tecnologia é composta por vários dispositivos (por exemplo, captores numéricos) e equipamentos (por exemplo, processadores, software sofisticado) que são capazes de tratar e analisar o entorno do veículo por forma a permitir que a condução seja autónoma.

Tendo em conta que 90% dos acidentes rodoviários são causados por erro humano (de acordo com um estudo de 2014 da KPMG), os veículos sem condutor são vistos como uma boa oportunidade para reduzir o número de acidentes e para melhorar a segurança nas estradas.

Para os fabricantes de automóveis ou empresas de outros setores (por exemplo, Google, Tesla, Uber), esta é também uma oportunidade para aumentar a mobilidade, através do desenvolvimento de novos produtos, e para superar novos desafios tecnológicos num contexto competitivo.

Embora alguns fabricantes já tenham produzido veículos sem condutor e se encontrem na fase piloto de testes e de comercialização, os Estados estão ainda a trabalhar na definição de um quadro legal para a realização de testes de veículos autónomos nas vias públicas.

Até ao momento, as regras são simples e continuam a exigir que o condutor tenha sempre o controlo do veículo. Ao mesmo tempo, já existem e são comercializadas tecnologias que permitem autonomizar parcialmente os automóveis (por exemplo, regulador de velocidade, sistemas de assistência ao condutor).

O aparecimento dos veículos sem condutor pode alterar drasticamente o negócio de seguro automóvel. A conclusão mais simples é a de que, com a diminuição significativa de sinistros resultante do aparecimento dos veículos sem condutor, os seguradores estarão menos expostos ao risco (menor frequência de sinistros) e, consequentemente, reduzirão os prémios cobrados aos clientes, o que levará a uma perda de 60% no mercado de seguro automóvel até 2040 (de acordo com a estimativa da KPMG).

Mas isto se não tivermos em conta as novas ameaças que irão surgir, nomeadamente em termos de riscos cibernéticos: e se se verificar um acontecimento com a dimensão de uma catástrofe natural, como por exemplo todos os veículos sofrerem um ataque informático ao mesmo tempo? Embora se estime que a frequência de acidentes venha a diminuir, o custo dos danos materiais nas próprias viaturas poderá ser mais elevado do que atualmente devido à integração de mais tecnologia e de tecnologia mais cara.

A redução dos prémios não é a única ameaça para o setor segurador no que respeita aos veículos sem condutor. No setor segurador, existe um debate em curso sobre a atribuição de responsabilidades após um acidente com um veículo sem condutor. Quem será considerado responsável? O proprietário do veículo, o condutor, o fabricante, os fornecedores ou operadores de software ou as organizações responsáveis pela manutenção das infraestruturas?

Advogados e seguradores parecem concordar que a responsabilidade deixará de ser dos detentores dos veículos e passará a ser dos fabricantes ou dos operadores, mas também concordam que, de qualquer forma, a determinação de responsabilidades exigirá procedimentos complexos.

Neste contexto, os seguradores desempenharão um papel fundamental na conceção de um plano de seguros que seja viável do ponto de vista da sociedade, que assegure a proteção dos lesados e uma compensação rápida das vítimas sem que tenham de suportar os atrasos de longos processos judiciais.

Tendo em conta a redução prevista do negócio de seguro automóvel, os seguradores têm de repensar o respetivo modelo de negócio e aproveitar as oportunidades para inovar e para se adaptarem às necessidades dos clientes.

O setor segurador tem vindo a acompanhar a inovação e, também neste caso, a AXA, bem como todo o setor, terá um papel relevante no sentido de garantir que os seguros contra defeitos de fabrico e a ameaça de ataque informático, bem como as novas coberturas de responsabilidade civil, são elaborados de forma a proteger os cidadãos, os condutores e os fabricantes.

Os veículos sem condutor representam uma oportunidade, mas também um risco emergente, que se constitui como um dos primeiros casos concretos a suscitar debates alargados sobre a inteligência artificial e sobre a forma como os robôs com capacidades de aprendizagem automática tomam as suas «próprias» decisões: quem será o responsável pelos riscos envolvidos?

Esta é uma questão que está, atualmente, a ser debatida no Parlamento Europeu, tendo em vista a criação de um quadro legal mais adequado. 


Por Hélène Chauveau, AXA, Head of Emerging Risks na Axa

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